Portugal reagiu bem à pandemia, mas está no limite de sacrificar a economia. Em outubro, chega o momento da verdade, com um Orçamento do Estado que apontará o caminho para um agravamento ou para a recuperação. É difícil ser otimista.
Corpo do artigo
Sabia-se o que aí vinha, apesar do prolongamento das moratórias bancárias. Sabia-se que o outono ia ser bastante cinzento. O desemprego aumenta - a despesa social sobe e as receitas fiscais diminuem. Os cofres do Estado começam a ficar vazios e os fundos europeus vão demorar a chegar ao terreno. Com grande resiliência, as empresas fazem impossíveis para conseguir segurar postos de trabalho, face à redução, maior ou menor, do volume de negócios. Chegaram os tempos difíceis. É altura de tomar medidas para que o inverno não seja tão longo e tão duro como se antecipa.
O mesmo Governo que, com mérito e determinação, soube aguentar a economia e o emprego no primeiro impacto da crise está agora a vacilar na definição dos termos da retoma. O sentido da recuperação não tem que envolver uma opção ideológica. Nada há de ideológico na salvação das empresas quando a salvação das empresas é a única solução para conseguir manter o emprego. O ponto não é, nesta altura, o aumento do salário mínimo. O ponto devia ser, antes disso, encontrar condições para que as empresas possam atravessar a turbulência sem ter que reduzir o efetivo.
Do mesmo modo que, sendo os apoios sociais do Estado fundamentais para garantir o mínimo de dignidade a milhares de portugueses, a melhor política social em que o país pode apostar passa pelo apoio à estabilidade das empresas e pelo incentivo à sua competitividade. Não nos iludamos com aparentes facilidades: um orçamento aprovado à Esquerda pode parecer simpático, mas não é exequível nem sustentável. Portugal não tem dinheiro nem capacidade de endividamento. Para recuperar, Portugal tem empresas e tem trabalhadores. Umas e outros bem precisam que o Governo seja um aliado e um parceiro, não um complicador.
Empresário e Presidente da Associação Comercial do Porto