A horta urbana que a Câmara de Gaia criou, vai para um ano, mesmo em frente à minha casa é grande. Está dividida em lotes comedidos. Mas não funciona. As ervas já tomaram conta do espaço, já foram cortadas e já"voltaram a ocupá-lo: como no poder, o vazio está sempre disponível para ser ocupado.
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Por que motivo não funciona a horta? Por dois motivos. Primeiro: alguém se esqueceu de que a água é um elemento decisivo para que a horta tenha sucesso. Quando o erro foi detetado, esventraram-se os passeios e fez-se a ligação. Nem assim a coisa rolou. Dizem-me que a Junta de Freguesia, agora, não encontra modo de entregar os talhões: a procura é muita e as dificuldades dos interessados semelhantes.
Palavra de honra: por estes dias, sempre que olho para a enguiçada horta, assoma-me à cabeça a imagem de Paulo Portas e Passos Coelho, o que, convenhamos, é sacrifício que baste para um comum mortal. Hortas como esta há de haver muitas por esse país fora (são uma boa iniciativa, quando funcionam...), mas é esta que conheço e é nela que projeto as causas e consequências do brilhante espetáculo circense que nos têm oferecido, de borla, o Paulo e o Pedro.
A malfadada horta está como Portugal: não ata nem desata. Não cumpre a sua principal função, porque alguém foi incompetente, no caso da água, e alguém é incapaz, no caso da entrega das parcelas. E alguém sofre com isso: as pessoas que podiam estar a beneficiar da horta poupando nas contas . Exatamente como Pedro e Paulo (e Vítor Gaspar, que, estribado na voragem dos acontecimentos, vai desaparecendo da nossa memória): foram incapazes e incompetentes para, com a enxada e o ancinho na mão, tratar da nossa horta. Preferiram calejar a língua a calejar as mãos. Preferiram a espada dos jogos florais ao trabalho que, a golpes de coerência, consistência e persistência ajudaria a limpar as ervas daninhas que destroem as finanças, a economia, a paz social e tudo o resto que vem por arrasto.
Passos e Paulo estão redondamente enganados se julgam que, com este arranjinho na horta, o povo fica sereno e a vidinha deles segue, como antes, sustentada em cargos de Estado. A irresponsabilidade cravou nos portugueses a certeza de que a ossatura do Governo que Portas impôs e Passos aceitou de cócoras está podre, corroída pelo bicho da traição e da desconfiança. Mesmo que o presidente da República feche os olhos e benza esta "coisa", teremos Governo para mais uns meses. Como na horta que vejo de minha casa, as ervas daninhas foram apenas aparadas - e não extirpadas. É óbvio que, mais cedo do que tarde, o terreno terá que ser outra vez remexido. Enquanto o pau vai e vem, lá folgarão as costas. O destino está, porém, traçado: as costas, as nossas costas, serão novamente vergastadas.