Há dias, um candidato independente nas listas do Chega justificava-se dizendo que aceitou ir nessa lista porque comungava com quase tudo o que esse partido defende. Excluía a castração química e a prisão perpétua - mas acrescentava que qualquer um, se lhe matassem um familiar próximo, ou se lhe fosse violada a mãe, irmã ou filha, talvez tivesse mais dúvidas em não defender a prisão perpétua ou, até, a pena de morte.
Corpo do artigo
O e-mail que o sítio "Religión Digital" envia diariamente aos subscritores repetiu durante dias a história de Lolita Londoño, uma mulher colombiana a quem foram assassinados dois filhos e um terceiro está desaparecido. Deixou-se dominar pelo ódio aos carrascos dos seus filhos e pelo desespero de nada saber do terceiro. Juntou-se à associação Mães da Candelária, que acompanha os familiares das vítimas e os ajuda a encontrarem os desaparecidos. Na tentativa de descobrir o paradeiro do filho desaparecido começou a visitar na cadeia os assassinos dos filhos mortos.
Começaram então a dialogar, a ouvir cada um as histórias e as dores do outro. "Estas histórias mudaram os nossos corações, até que percebemos que eram seres humanos como nós e calçámos os seus sapatos", disse Lolita ao jornalista Jairo Franco Uribe. Aos poucos, o perdão foi substituindo o ódio. E, em vez de vítimas e algozes, passaram a considerar-se mutuamente como "sobreviventes vitoriosos". Aqui chegados, para além de os perdoar, Lolita decidiu adotar três dos assassinos e neles recuperar os seus filhos.
Para Jairo Franco Uribe, Lolita converteu-se um "símbolo de um Deus que é mãe e que ama incondicionalmente, não só o seu único Filho, Jesus Cristo, mas a todos". No seu coração, "ou melhor, no seu útero, todos temos espaço e todos somos gerados" para uma vida nova. E conclui: "Que bom que seria que a Igreja, assim como Lolita, fosse no Mundo como que o útero de Deus". Que assumisse todos, "sem moralismos ou preconceitos, principalmente os descartados, para os gerar para uma vida plena".
Seria seguramente uma Igreja mais misericordiosa. Ao estilo de Jesus Cristo, que preferiu sempre perdoar o pecador a condená-lo.
*Padre