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Francisco continua a lutar. Agora contra uma pneumonia bilateral, agravada por uma insuficiência renal, mas há anos que se debate com vários problemas de saúde, que alimentaram rumores insistentes sobre uma possível renúncia, tanto mais que se sabe que há uma carta assinada pelo seu punho a abdicar em caso de “impedimento grave”. Se é incerto quanto tempo mais Jorge Bergoglio continuará na cadeira de Pedro, não há dúvidas de que o seu legado é muito maior do que as reformas que corajosamente realizou na Igreja Católica.
Francisco sucede a Bento XVI, que renunciou fragilizado pelos escândalos sexuais e de corrupção na Igreja, e desde logo marca a diferença. No estilo - próximo, informal, simples, alegre - em oposição ao erudito e reservado Joseph Ratzinger; na cruzada contra os vícios instalados no seio do Vaticano; e na abertura que revelou em relação a alguns temas tabu. O Papa varreu o Instituto para as Obras de Religião (o “Banco do Vaticano”), reformou a Cúria Romana, modernizou a Constituição Apostólica, mexeu com os poderes instalados, numa investida que rapidamente lhe valeu poderosos inimigos.
Ao mesmo tempo que limpava a casa, o Papa lançava pontes, aproximando a Igreja dos mais pobres e de todos, todos, todos - mesmo, ou principalmente, os excluídos, os fiéis de outros credos e até os que não têm fé ou religião. O espírito de tolerância em relação aos homossexuais e aos recasados que sempre lutaram pela reintegração na Igreja, a abertura ao fim do celibato obrigatório para o sacerdócio ou a colocação de mulheres em cargos que sempre lhes estiveram vedados são outras das marcas de água deste pontificado. Ainda é insuficiente, argumentarão os críticos, mas em 12 anos Francisco revolucionou uma instituição machista, absolutista e fechada e afirmou-se como um dos mais relevantes faróis morais do Mundo atual. Há uma Igreja antes e depois de Francisco.