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Está a decorrer em Roma aquilo que, até o passado dia 4, era conhecido por Sínodo dos Bispos. Coloco o verbo no passado porque os bispos são, desta vez, apenas um grupo, o maior, é certo, dos múltiplos participantes neste “Concílio Vaticano III”, uma designação que o bispo de Roma, e Papa Francisco, expressamente recusou. Francisco andou a abeberar este Sínodo pleonástico - já que o tema central da assembleia é a sinodalidade - durante os últimos anos, e as conferências episcopais dos diversos países também. Nem sempre no sentido de Cristo ou da Igreja, como é o caso da conferência episcopal alemã cujas deliberações para este Sínodo mais parecem saídas do missal “wokista”* do que de purpurados. Para o fim da vida, Bento XVI intuiu para onde caminhava esta gloriosa sinodalidade, olhando ao exemplo do seu país de origem, e proibiu que o seu livro póstumo sobre o cristianismo fosse editado na Alemanha. Na realidade, Bento XVI, o teólogo Ratzinger e o Papa Emérito, era um obstáculo moral e espiritual forte a estas derivas prosélitas da Igreja. E Francisco tanto o sabia que, sepultado o antecessor, deu imediatamente corda à preparação do Sínodo, abrindo-o à participação de leigos e de mulheres, sentados em mesas redondas no Auditório Paulo XVI do Vaticano, como que prontos para jogar bacará. De tal forma que já o vi a reclamar para o salão a presença do Espírito Santo contra as tentações mundanas. Francisco talvez se tivesse apercebido que só pode e deve ir até onde for necessário, nunca indo mais além. Não sei se vai tarde, ou não, porque a mundanidade e a correcção circulam livremente por aquelas mesas redondas. Ele próprio, aliás, emitiu uma Exortação Apostólica sobre as alterações climáticas - que mais parece um simples panfleto esverdeado - onde Cristo praticamente aparece como redundante e omisso. Subscrevo estas palavras do cardeal Ratzinger, em 1981, e passá-las-ia em modo de cábula aos bispos e não bispos, o de Roma incluído, em louvor e simplificação da verdadeira sinodalidade: “A humildade da fé desapareceu, despedaçada pela arrogância do activismo”. “Mas esta não é a maneira de curar a doença do Mundo, uma vez que vamos contra o Criador quando já não queremos existir como os seres humanos que Ele quis que existissem. Nada deveria ser colocado antes do serviço de Deus”. Nada, pois, de falsas adorações do progresso ou das mudanças “que representam uma calúnia contra a espécie humana, que destrói a Terra e a criação e a afasta do seu objectivo”.
*Um livro: “A Religião Woke”, de Jean-François Braunstein, Guerra & Paz, 9/23. Estudo sobre o “descomplexado carácter absurdo”, contra a realidade, a história e a ciência, do “wokismo”.
O autor escreve segundo a antiga ortografia