Muito por via da eleição de um Papa jesuíta, a Páscoa está marcada pelo endurecimento do discurso da Igreja Católica. O perfil de simplicidade e de combate ao mundanismo do Cardeal Bergoglio não sofreu, pelo menos para já, qualquer desvio no Papa Francisco, para espanto de todos quantos têm assistido nas últimas décadas aos rituais sumptuosos do Vaticano. E se é cedo para garantir a coerência - a Cúria está, diz-se, demasiado armadilhada - os desejos de (re)abertura da Igreja à sociedade repercutem-se um pouco por todo o Mundo. E os ventos de mudança desejável estão também a chegar a Portugal.
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Embora não sendo única - para desgosto de um naco da comunidade nacional demasiado reverencial e acrítica, incluindo jornalistas -, a Igreja Católica tem prestado um inestimável serviço nas redes de apoio e solidariedade aos portugueses mais necessitados; de ciência certa sabe estar a ser mais e mais requisitada no amparo de cada vez mais e mais pobres. Verifica, no fundo, a subida do mercúrio no termómetro de degradação social. E reage. E denuncia.
Se há casos de truculência discursiva politicamente marcada - o Bispo das Forças Armadas, D. Januário Torgal Ferreira é exemplo - o Arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, assinou nos últimos dias críticas não negligenciáveis e sem que seja fácil colarem-se-lhe rótulos ideológicos.
Perante a escassez de alimentos à mesa de um número cada vez maior de portugueses, D. Jorge Ortiga "rebelou-se" contra os políticos incompetentes e as consequências da gula monopolista da Banca, pedindo novos e mais eficazes critérios de governação.
A degradação das condições económicas e sociais dos portugueses merecem que se pressionem os poderes instituídos na busca de um rumo melhor, de respeito pela condição humana. Sob tal ponto de vista, a posição da Igreja Católica portuguesa tende a deixar-se de anos e anos de uma certa letargia, quando não mancomunação com os poderes instituídos.
Recorda-se? Os alertas de fome lançados nos anos 80 por D. Manuel Martins, Bispo Emérito de Setúbal, eram verdadeiros e tiveram respostas de abespinhamento de Mário Soares, o primeiro-ministro da altura. Então os dramas centravam-se nas regiões de Setúbal e do Vale do Ave.
As diferenças para os tempos atuais não deixam de dar que pensar.
O empobrecimento e a miséria de então desfocou-se, alastrou-se e é hoje transversal a todo o país. E se Mário Soares ia à luta, longe ainda de se imaginar em 2013 no papel de D. Manuel Martins, o primeiro-ministro atual não tuge nem muge. Deduz-se que Passos Coelho encolhe os ombros e mantém-se firme e hirto na ideia de construir em Excel uma nova sociedade a partir dos escombros da atual.
Vozes respeitadas e tonitruantes como a de D. Jorge Ortiga são bem-vindas. Sob pena de o país ficar todo ele sitiado. Os governados já estão e o Governo para lá caminha.