A ideia de que os independentes podem ser mais competentes e sobretudo mais sérios no exercício de cargos políticos fez algum sentido enquanto os partidos precisaram de esconder ligações, ramificações e influências para melhor comerem de cebolada a concorrência em atos eleitorais os mais variados, incluindo associações cívicas locais cujo decisivo critério de seleção deveria ser o da opinião dos vizinhos.
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Na alta política - quero dizer: ministérios, procuradorias, direções- -gerais... - a caça ao independente foi incrementada, em Portugal, nos anos 80 do século passado, quando os partidos do arco governativo deixaram de poder jogar com o perigo de sovietização ou de cubanização do regime e se tornou claro que o PCP estava rendido ao parlamentarismo ainda que a sua persistência em alguns "slogans" lhe pudesse manter parte da imagem revolucionária.
Dessa intensa caça ao independente, quais são os resultados hoje visíveis?
Para que a listagem não seja demasiado longa, vejamos a questão apenas no plano do Poder Executivo.
No rol de políticos em geral e ministros ou diretores-gerais em particular suspeitos de terem infringido as leis, não constam independentes?
Constam. E não são poucos.
No rol de políticos em geral e de ministros e diretores-gerais em particular suspeitos de beneficiarem amigos e familiares, não constam independentes?
Constam. E não são poucos.
Movidos pela lógica do saque ao voto, os partidos criaram os independentes para poderem dizer que tinham toda a abertura à sociedade, mas esses tiros vão acabar por sair pela culatra. Se não arrepiarem caminho no uso abusivo e abusador de independentes, por vezes verdadeira caça ao idiota útil, os partidos podem tornar irreversível a tendência em curso para diluir o património de pensamento próprio que os deve distinguir.
Por outro lado, a caça ao independente por parte dos partidos instalados no arco constitucional tem impedido que surjam novas forças políticas consistentes ao nível das candidaturas em eleições locais, onde o conhecimento da realidade e o reconhecimento dos vizinhos deveriam valer o suficiente para gerar propostas não inteiramente enquadradas nas grandes opções ideológicas.
Por fim, o uso e abuso de independentes tem feito crescer a tentação de, uma vez chegados ao Governo, os líderes partidários deixarem de ouvir as suas próprias bases, sob pretexto de não permitirem pressões nos processos de decisão.
Isso aconteceu com José Sócrates, que deixou de ouvir os portugueses através das bases do PS e parece estar já a suceder com Passos Coelho, que não tem sujeitado ideias delicadas como a da TSU sequer ao Conselho Nacional do PSD.