<p>O primeiro-ministro reuniu, ontem, com responsáveis dos partidos políticos com assento parlamentar. Objectivo: preparar o próximo Conselho Europeu, que decorrerá quinta e sexta-feira em Bruxelas. Trata-se de uma iniciativa normal do líder do Executivo. Ocorre que, neste caso, a reunião é apenas "normal" devido à formalidade do acto. É que o objecto da discussão que juntará os chefes dos governos da União Europeia pode determinar (deve determinar, em boa verdade) a margem de manobra que cada um terá para ultrapassar a crise. E a nossa, como se sabe, é muito parca.</p>
Corpo do artigo
A embrulhada que rapidamente se montou por causa das alegadas alterações ao Código do Trabalho é, porventura, o exemplo mais emblemático do desarranjo a que o país chegou e das ciclópicas tarefas a que, por causa disso, está agora obrigado. Recordemos o caso: o comissário europeu da Economia garantiu que lhe haviam garantido mudanças nas leis do trabalho. Sócrates disse uma coisa diferente de Teixeira dos Santos, que, por sua vez, disse uma coisa diferente da ministra do Trabalho. No fim, ficou a saber-se que, pífias ou não, haverá mudanças no Código do Trabalho.
O que significa isto? Significa que há uma série de reformas inevitáveis. Se não as fizermos nós, alguém há-de obrigar-nos a fazê-las. Por muito atraente que possa parecer o discurso do Governo sobre a "aposta" (palavra com costas muito largas em Portugal) nas exportações, no emprego, na educação, na ciência, na reabilitação urbana e em coisas que todos apreciamos muito em teoria, nada elimina o óbvio: a Europa que manda (quer dizer: a Alemanha e a França) e paga os desvarios da Europa que pensa que também manda ruma a duas (perigosas) velocidades.
Aquilo que esta semana se discute em Bruxelas é, justamente, os passos a dar para se aumentar a vigilância orçamental entre todos os os estados-membros e o reforço dos mecanismos de defesa do euro.
"A União Europeia precisa de encontrar tão cedo quanto possível um mecanismo permanente para resolver as suas crises económicas", disse, ontem, o líder do PSD à saída do encontro com José Sócrates. É verdade. Sucede que este debate acontece numa altura em que, num mundo claramente tripartido do ponto de vista económico (Estados Unidos da América de um lado; países emergentes do outro; e União Europeia noutro), há uma potência que vem dando sinais claros de afastamento desta tendência de que fala Passos Coelho.
A paciência da Alemanha, que fechará o ano com um invejável crescimento económico, está a chegar ao fim. E isso pode não apenas inquinar a estratégia dos mais fracos, mas sobretudo pôr em causa o "caminho comum". Oxalá tal não aconteça. Seria dramático para todos. A começar por nós, que nos atrasámos muitíssimo nos trabalhos de casa.