Na sequência diária das nossas vidas não nos apercebemos na esmagadora maioria das vezes da complexidade de factos, pessoas, logística e valores implicados por detrás de atos muito simples, como por exemplo os de comprarmos pão, carne, legumes, leite e derivados, com tudo o que desenvolve a montante deste momento final da simples aquisição de um bem alimentar.
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Os modelos atuais de desenvolvimento e investigação sobre a cadeia alimentar, sustentados no conceito internacional de "from farm to fork", implicam um sistema muito complexo a articulado na sua base de sustentação. Muito provavelmente durante a escrita deste artigo de opinião, haverá milhares de toneladas de cereais a serem vendidos em mercados de derivados de matérias-primas, sem estarem ainda produzidos, em alguns casos tão-pouco semeados. E foi neste complexo mundo global de troca de bens alimentares que a União Europeia baseou uma parte importante do seu modelo de desenvolvimento. A base proteica da alimentação animal, por exemplo, depende no espaço europeu em mais de 70% da importação de grãos de plantas proteicas.
O comércio internacional, nomeadamente o ligado a bens alimentares, é uma das áreas em que mais claramente sobressai a necessidade da cooperação entre países. Mais do que ações unilaterais, a experiência demonstra a necessidade do estabelecimento de equilíbrios e de cooperação intensa e regulada entre países e mercados, porque inevitavelmente as vantagens decorrentes da proteção do mercado doméstico são concentradas e insuficientes. O sobressalto que estamos a viver mostra ainda a interligação complexa que está na base das coisas mais simples, neste caso os alimentos que consumimos: sem acordos globais e níveis de autossuficiência mínimos elas podem, de repente, tornar-se simplesmente impossíveis.
*Reitor da UTAD