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Setembro é sempre um momento marcante para muitas famílias, que celebram o acesso ao Ensino Superior de dezenas de milhares de jovens, este ano com um número próximo de 43 mil só na primeira fase de colocações. A formação e qualificação dos portugueses é uma questão decisiva do presente e do futuro, com ênfase natural na faixa etária que acede e frequenta o Ensino Superior, pela exigência cada vez mais elevada de proximidade ao conhecimento que todas a atividades comportam.
As nossas universidades e institutos politécnicos têm por isso um enorme desafio e responsabilidade perante a sociedade, sendo a importância transversal a todos os domínios e diferentes níveis de formação superior, da mais clássica à de duração mais curta e cariz profissionalizante.
Após o forte crescimento ocorrido nas décadas de oitenta e noventa, a oferta formativa sofreu um decréscimo acentuado no início dos anos 2000. A recuperação iniciada nos últimos anos tem vindo a ser mais sustentada, em especial pelo alargamento da base de recrutamento e oferta formativa. Quando se analisa a distribuição das vagas por área formativa é visível o contributo elevado dos domínios da saúde e proteção social nesta recuperação. O modelo de Bolonha está estabilizado, sendo agora tempo de aproveitar todo o seu potencial. Nos últimos anos temos também assistido a um crescimento do que é habitualmente referido como "novos públicos", ou seja, alunos com mais de 23 anos que acedem ao Ensino Superior pela primeira vez, ou reingressam para redirecionar, ou "reparar" a formação superior obtida anteriormente.
Portugal dispõe de uma oferta formativa variada, caracterizada por uma componente pública universitária mais centrada no eixo litoral Braga-Setúbal; oferecendo o setor público do Ensino Politécnico uma cobertura mais abrangente e com forte contributo para o conceito de coesão territorial. O setor privado, universitário e politécnico, tende a estar mais próximo da rede litoral do ensino público universitário. Devemos ainda refletir na oferta formativa, que se apresenta excessiva em vários domínios, muitas vezes redundante, com situações de manifesto conflito geográfico e perda de eficiência na gestão dos recursos públicos. A consequência social decorrente é o aumento da concentração do número de desempregados com formação superior em áreas com maior oferta formativa, o que não deixa de ser paradoxal e errado na leitura apressado de que já teremos diplomados a mais.
* PROFESSOR CATEDRÁTICO DA UNIVERSIDADE DO PORTO