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Após a última crónica que escrevi, o Governo português assumiu a necessidade de lançar mão de um pedido de ajuda externa à União Europeia para um empréstimo que lhe possibilite o pagamento, nos próximos três anos, de juros mais baixos. De uma forma simples, o nosso Estado passará a pagar menos pelos seus empréstimos e, em contrapartida, terá a sua política económica e orçamental mais controlada pelas instituições internacionais. Poderá, assim, ganhar tempo para construir patamares sólidos de crescimento.
Nunca fiz do pedido de ajuda internacional uma questão de defesa de um nacionalismo serôdio ou de um miserabilismo militante. Tenho pena que tenhamos chegado a este estado e considero que há responsáveis directos por isso. Mas não entendo como um drama a utilização dos instrumentos de ajuda financeira colocados à disposição nos meios internacionais. Aliás, esta circunstância pode ser uma boa oportunidade para recuperar o tempo perdido, desde a adesão ao euro, para o país deixar de gastar em demasia, controlar as suas finanças públicas e lançar as reformas necessárias para ser uma economia liberal de sucesso.
Para que isso suceda, há passos essenciais a dar. O primeiro passa pela arte de conseguir o consenso. Em primeiro lugar, a nível interno e, em segundo lugar, apesar do espaço reduzido, com a Comissão, o BCE e o FMI. Tudo isto exige informação a circular a partir do Governo. Não pode, por exemplo, o presidente da República conhecer os programas em negociação ou os pedidos feitos, através da Comunicação Social. O respeito institucional e o espírito de compromisso (precisamente o contrário da intolerância impositiva) vão ser mais necessários do que nunca. É por isso que, nas próximas eleições, os portugueses devem julgar quem se encontra mais bem posicionado para gerar consensos e negociar.
Porque com aqueles que apenas se preocupam em acusar o parceiro do lado pela crise, Portugal não vai alcançar a estabilidade que necessita para os próximos quatro anos. No nosso sistema democrático tanto vão ser necessárias as diferentes visões sobre o futuro do nosso país como o poder de moderação das fricções. É, por isso, que as eleições de 5 de Junho são essenciais para distribuir os diferentes papéis. Por essa razão, serão tudo menos indiferentes.