<p>"Como avisei, na devida altura, chegámos a uma situação insustentável". Estas palavras do presidente da República, proferidas no Dia de Portugal, são, porventura, as mais fortes até hoje ditas na história dos discursos de Cavaco Silva. Mas só podem espantar aqueles que não seguem de perto as crescentes preocupações do presidente. Apesar da promessa de "convergência estratégica", percebe-se que o estilo e o carácter de Cavaco Silva só por tacticismo político poderiam "casar" com o estilo e carácter de Sócrates. Por outro lado, por mais que todos aqueles que chegam a Belém ou a S. Bento digam, em alta voz, que, a partir desse momento, são o presidente e o primeiro-ministro de todos os portugueses, a verdade é que não renunciam às suas ideologias, mentalidade e maneira de ser. É esse substrato que mantém, aliás, uma disfarçada ligação com os partidos que os ajudaram à chegar àqueles lugares. </p>
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Afirmar isto, não será considerado "politicamente correcto". Pois é. Mas talvez esta circunstância tenha contribuído, ao longo dos tempos, para chegarmos a esta "insustentável situação".
Neste momento, Cavaco Silva só não força a demissão de José Sócrates por dois motivos: o mesmo porque não pôs "veto político" ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e porque tem uma segunda eleição à vista.
De tudo o que se possa dizer e pensar de José Sócrates ter-se-á de reconhecer que é um irresistível resistente. Provavelmente, também, o presidente nem o quer demitir porque, nesta complicada conjuntura, ninguém quer ir para o seu lugar.
Nem sequer outra personagem dentro do próprio PS. Aliás, os outros partidos ou as comissões de inquérito parece também não querem. Mas Sócrates deve sentir-se cercado. Por muito menos, outros "fugiram". Calcula-se o embaraço que seria se Sócrates, farto desta situação insustentável, "entregasse as chaves" em Belém.
Politicamente, há muito tempo que se declarou a "morte" de Sócrates. Pode dizer-se que este se pôs a jeito, mas nunca nenhum primeiro-ministro, nesta democracia portuguesa, foi alvo de tão grande desgaste.
E isso também contribuiu para esta "situação insustentável".
Ora, nesta conjectura, não é só no plano financeiro, económico e social que "chegámos a uma situação insustentável". Não vale a pena camuflar: Sobretudo, politicamente, estamos perante uma insustentável situação.