O termo IoT está hoje disseminado em todo o mundo, significando a Internet das Coisas (Internet of Things). Trata-se de colocar sensores em tudo o que é físico - as coisas -, de forma que se possa controlar remotamente várias das suas características, incluindo a posição. Muito útil, convenhamos, num mundo em que o físico e o digital se fundem, quase sempre para nossa conveniência. Ainda assim, questiono-me sobre o papel da Internet junto das pessoas, sobretudo das mais vulneráveis. A resposta, ou uma resposta, chegou-me esta semana, por via de um projeto-piloto que está a decorrer em Trás-os-Montes, designado "Idoso(@) Ativo(@)".
Corpo do artigo
Nos concelhos de Murça, Tabuaço e São João da Pesqueira, algumas dezenas de idosos que vivem sozinhos têm as suas casas instrumentadas através de um sistema de vigilância não invasivo, que deteta alterações de rotinas, variações da temperatura da casa, fugas de gás ou mesmo a entrada de estranhos. O "vigilante digital" permite acionar alertas, quer por deteção automática, quer por pedido de ajuda oral por parte do idoso, aumentando deste modo a segurança desta população mais desprotegida.
De acordo com a operação "Censos Sénior" desenvolvida pela GNR em outubro de 2022, quase 45 mil idosos vivem sozinhos, isolados ou em situação de vulnerabilidade, a maior parte dos quais nos distritos do Interior do país. As autoridades têm procurado alertar os idosos para os comportamentos de segurança, face a ameaças de roubo e de burla, que podem ser acompanhadas de violência. Porém, não é materialmente possível assegurar o patrulhamento permanente e eficaz a todos, pelo que um alargamento da experiência em curso nos municípios transmontanos traria um importante complemento eletrónico à vigilância, sobretudo quando todas as projeções apontam para um crescimento da população idosa em Portugal, acompanhada do êxodo dos mais novos para as cidades do litoral ou mesmo para o estrangeiro.
Não se interprete estes avanços tecnológicos como um projeto de substituição do acompanhamento dos idosos por sensores e computadores. São coisas diferentes: a Internet das pessoas pretende utilizar tecnologia não invasiva da privacidade para gerar alertas precoces e, assim, aumentar a eficácia da ajuda; o apoio direto, por sua vez, reclama uma dimensão pessoal que responde às necessidades das pessoas, para além da segurança, sua e dos seus bens. A saúde, a alimentação, o bem-estar e o combate à solidão vão muito para além da tecnologia, claro está.
*Prof. associada com agregação da UMinho