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É um dos clássicos de pré-campanha. Começa de mansinho, com notícias sobre reuniões partidárias. Vai ganhando dimensão, com este ou aquele notável apontado para aqui ou para ali. Provoca polémicas internas, com caciques locais zangados com o esquecimento dos seus. Passa para o chefe supremo, que faz a revisão, promovendo os mais fiéis e afastando adversários mais encarniçados. Até que chega o dia do advento, com destaque para as novas estrelas, quando as há.
Como também é de tradição, a Comunicação Social começa depois a esmiuçar as listas de candidatos a deputados, com relevo para os cabeças de lista. Em alguns casos, chega-se ao ponto de apontar os duelos distritais mais relevantes. Duelos? Relevantes? Estranho otimismo, quando a esmagadora maioria dos eleitores desconhece quem são os líderes dos seus círculos eleitorais. Na verdade não há duelos, nem a localização geográfica dos nomes que compõem as listas é relevante. A prática política vigente, convém lembrar, impõe que os deputados não sejam dos círculos eleitorais, muito menos dos eleitores, mas dos partidos. Muitos deles nem sequer têm, como se sabe, ligação aos distritos para onde são atirados.
Não é portanto pela ignorância dos eleitores que os duelos distritais promovidos pelos partidos são uma falácia. É pela irrelevância. Os únicos duelos, como se sabe de antemão, serão entre os dois candidatos a primeiro-ministro, numa primeira linha, e entre estes e os líderes dos dois partidos mais à esquerda (desta vez, nem Portas terá direito a papel principal).
Alguém acredita que o confronto entre o cientista Alexandre Quintanilha e o ministro Aguiar Branco no Porto fará a diferença? Ou que Mariana Mortágua, nova estrela do Bloco, seja uma ameaça para Jerónimo, Passos e Costa em Lisboa? Onde? Nos sítios que verdadeiramente contam - nos debates e reportagens televisivas, nas letras gordas dos jornais, nos outdoors -, os destaques serão para Passos e Costa, às vezes para Jerónimo ou Catarina, raramente para qualquer outro.
O desconhecimento e desinteresse dos eleitores pelos candidatos do "seu" distrito não resulta da ignorância e desinteresse, apenas da irrelevância. Todos sabem que o deputado conta pouco (haverá exceções, mas são isso mesmo, exceções), o seu sentido de voto ficará amarrado à disciplina partidária do grupo parlamentar. Estarão a favor daquilo, mas votarão contra, de acordo com os ditames do capataz parlamentar de turno. Estarão contra aquilo, mas engolirão em seco, votando a favor, como é desejo do chefe do partido. Só assim poderão aspirar a repetir candidatura, em lugar elegível, nas eleições seguintes, qualquer que seja a geografia.
*EDITOR EXECUTIVO