Corpo do artigo
Não é habitual ver os políticos irritados. Normalmente são contidos e fazem um esforço para não deixar transparecer o frenesim que lhes vai por dentro. Faz parte do perfil. E os seus conselheiros devem utilizar todos os meios para manterem uma aparente coriácea carcaça. No actual contexto, a gritaria, pelas razões ou não razões políticas de cada um, vai tão alta, que está a tornar-se comum ver e sentir os nossos políticos irritados. Em boa verdade, esta semana, até foram mais os economistas. Mas isso foi constatável, sobretudo, nos economistas que têm desempenhado o papel de políticos. Alguns apareceram nos media tão zangados que desconfio tenham conseguido fazer-se ouvir por quem quer que seja.
A irritação só ajuda à confusão. E a confusão nesta discussão sobre a crise, sobre o endividamento ao exterior e no interior, assume deveras preocupantes sintomas esquizofrénicos. A confusão já existe quanto baste. No aduzir dos factores reais que levaram a ela. Nas propostas e medidas para dela sair.
Efectivamente, o Relatório da conjuntura económica de Portugal, apresentada na segunda-feira, pelo secretário-geral da OCDE, mais parecia o relatório do ministro das Finanças do actual Governo, do que daquela organização internacional. Eram textos saídos da mesma fotocopiadora. Mas isso não justifica, pelo menos por respeito à organização internacional que elogiou, que um economista português habituado nas lides da política, aliás, habitualmente calmo e ponderado, desate a classificar de incompetente e com outros termos ofensivos, Angel Gurría. Na generalidade, os economistas ouvidos à entrada e saída para a reunião com Pedro Passos Coelho evidenciavam enorme irritação. Compreende-se que estejam exasperados a repetirem sempre o mesmo e não verem efeitos consequentes às suas análises e ditames. É talvez o drama das ciências sociais não serem exactas e andarem eivadas de componentes ideológicas.
Mas se esta plêiade de economistas se manifesta tão exasperada, que dizer dos 600 mil desempregados deste país ou dos dois milhões de portugueses que vivem no limiar da pobreza.
A grave situação em que nos encontramos requer serenidade. Serenidade transmitida aos cidadãos. È importante que não se esqueça a vertente social desta situação de depressão económica e financeira. Caso contrário os cinco milhões do Governo Civil de Lisboa para comprar viseiras e outros equipamentos para manter a ordem pública serão insuficientes.