Depois de dias incessantes da operação de monopolização do espaço mediático pelo Governo para apresentar e reapresentar o Orçamento do Estado para 2023, o PSD organizou as suas jornadas parlamentares para sintetizar o que pensa sobre a proposta do PS.
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Fê-lo com a missão de deixar claras três ideias. Uma sobre o presente: o país está mais pobre e por isso cresce menos do que os parceiros europeus. Outra sobre o futuro: este é um "Orçamento tapa-buracos", que não dá uma resposta robusta e estrutural para os desafios que o país enfrenta, como disse Luís Montenegro em entrevista ao JN e à TSF. E a terceira sobre o passado, que é uma mensagem de responsabilização: o "PS governou 20 dos últimos 27 anos", portanto, segundo os sociais-democratas, a situação que vivemos resulta das escolhas dos socialistas e o empobrecimento nacional é da sua total e exclusiva responsabilidade.
Na procura de marcar uma clivagem com o ambiente de "descoordenação" no interior do Governo, como foram os casos do novo aeroporto entre Pedro Nuno Santos e o primeiro-ministro, ou sobre a descida do IRC, com a troca pública de opiniões entre Fernando Medina e o ministro da Economia, Luís Montenegro quis, para além das mensagens, posicionar a coesão do PSD aos olhos dos portugueses.
E chamou para protagonistas Joaquim Sarmento, o antigo ideólogo económico de Rio, e Carlos Moedas, que não perde uma oportunidade para ser "incómodo", como o próprio se assume, ao querer protagonizar oposição a António Costa.
Para lá de todas as mensagens, surge uma perplexidade.
Montenegro ensaia a frase para ficar no ouvido de que o PS está travestido de "furioso adepto das contas certas". Pasme-se que, no meio do ensaio, sugere que é precisamente por o país ter as contas certas que está mais pobre e com serviços públicos à míngua.
Sucede que este parece, no mínimo, ser um caminho perigoso, até porque revela quão mal o PSD lidou não só com este Orçamento, mas com o facto de um Governo do PS ter apresentado bons resultados no domínio do défice público.
A verdade é que, a bem ou a mal, as contas certas deixaram de ser, por agora, marca de água com patente exclusiva do PSD. Luís Montenegro sabe-o. E sabe que para ganhar já não chega esperar que o poder lhe caia no colo. É preciso mostrar que país se deseja e o que tem de ser feito para lá chegar.
Os portugueses continuam a aguardar. E Carlos Moedas também.
*Diretor-Geral Editorial