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No final do Ano Jubilar da Redenção, em 1984, João Paulo II, hoje santo da Igreja, anunciou a criação da Jornada Mundial da Juventude, confiando aos jovens a cruz de Cristo: “Levai-a pelo Mundo inteiro como sinal do amor do Senhor Jesus pela humanidade e anunciai a todos que só em Cristo, morto e ressuscitado, se encontra a salvação e a redenção”. Quem ficou na capital pôde testemunhar a espontaneidade, a alegria, a genuína felicidade da presença da cruz nos milhares e milhares de peregrinos que invadiram, no melhor sentido, ruas, avenidas e parques. O mesmo não se pode dizer das televisões nacionais que, como sempre, quiseram sobrepor-se a estas manifestações, colectivas e de intensíssima privacidade, com a sua pesporrência ignorante, atropelando-se no campeonato da cretinice. Francisco constituiu o cerne da Jornada. Diria que tudo se concebeu - espectáculos, músicas, coreografias, etc. - em função do que os organizadores estimam ser a “visão” do Papa para a Igreja. E diria que, neste aspecto, a Jornada terá sido um ponto de chegada do pontificado.
Francisco saiu de Lisboa para ir preparar a Igreja que, até agora, não tem conseguido impor. Isto apesar de ter renovado maciçamente o colégio cardinalício que elegerá o futuro Papa, e de ir promover alguns bispos improváveis a cardeais para postos decisivos no Vaticano e no Mundo. Não vale a pena disfarçar a divisão que Bergoglio trouxe a uma Igreja que vinha confusa de trás. O Sínodo de Outubro será seguramente o momento mais alto dessa divisão, a avaliar pelas posições de algumas conferências episcopais. Nas diversas falas em Lisboa e em Fátima, Francisco passou por cima de tudo isto e falou às “massas” em modo “auto-ajuda, auto-estima”. Usou frases e expressões de efeito fácil. Veio como apóstolo, ou seja, como aquele que é enviado para anunciar o Senhor, numa espécie de “estrutura de missão” que começa no Pai que envia o Filho que passa a missão aos Santos Apóstolos, e daí a toda a Igreja: a una, santa, católica e apostólica. A de todos os baptizados. Mas, de facto, preferiu o “espiritualismo mágico”, encantatório, à celebração da autêntica fé da Igreja que começa precisamente no baptismo. Momento em que, segundo São Paulo, somos parte da vida e morte de Cristo para com Ele ressuscitarmos, na e mediante a glória de Deus, numa vida nova onde “se encontra a salvação e a redenção” a que aludiu João Paulo II. Fora a crítica à eutanásia, ao aborto e ao abandono dos velhos, Francisco trouxe mais política e mundanidade para dentro da fé do que o contrário. Lamento.
O autor escreve segundo a antiga ortografia