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É de extrema gravidade o que disse o líder parlamentar do Chega, Pedro Pinto, o que tem dito André Ventura e o que escreveu nas redes sociais um dos seus assessores, a propósito dos tumultos na periferia de Lisboa e da morte do cidadão Odair Moniz. A apologia que fizeram da violência policial, incitamento ao ódio e à violação da lei causou indignação geral. Um polícia, que é um representante do Estado, não pode atirar a matar contra uma pessoa desarmada, nem ser elogiado ou incentivado a fazê-lo.
É indesculpável que um dirigente político diga que o país estaria mais na ordem se a Polícia atirasse mais vezes a matar. Por infringir a lei, por incitar ao ódio e à violência e por ser uma manifestação pública de racismo. Mas também por manifestar um preconceito social, simplificando uma situação complexa, que tem causas profundas na incapacidade do Estado fazer uma integração correta das suas populações, sobretudo as mais desfavorecidas, remetendo-as, em vez disso, para guetos sociais.
Pedro Pinto disse-o com a ligeireza de quem está numa mesa de café. Só que estava num canal de televisão, visto por muitos milhares de pessoas e capaz de as influenciar. Disse-o sem qualquer pudor em fazer a apologia da lei da bala, em completo desprezo pela lei, com indiferença humana, como um apelo à rebelião é à guerra civil.
Quando o Chega começou a crescer, houve quem não hesitasse em apelidá-lo de fascista, por defender a ordem e a autoridade à revelia da lei e da Constituição, por dividir a sociedade entre as pessoas de bem e as outras, por fazer cercos a partidos e por tornar o Parlamento a câmara de eco de todas as provocações, contribuindo assim para a erosão dos fundamentos da nossa democracia e dos valores que a sustentam.
À conta de tanto quererem capitalizar com a sua retórica odiosa contra a imigração e de defenderem as forças de segurança de forma cega, independentemente do respeito e valorização que merecem, o Chega e os seus dirigentes acabam por mostrar a sua verdadeira natureza, violenta e autoritária.
Como este é um tipo de pensamento político que não se diferencia muito da arbitrariedade cometida pelos fascismos, só pode ser, portanto, uma forma de fascismo, ignóbil, por ser um atropelo ao Estado de direito.