A magna questão do nosso défice e da sua natureza volta à casa mãe: a União Europeia. Ou o espaço europeu como ontem se lhe referiu o Primeiro Ministro enquanto causa externa para a derrapagem do processo de baixar o nosso défice para a meta dos três por cento.
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Curioso que Passos Coelho tenha chegado à mesma casa mãe de António José Seguro, que, por outras palavras, dissera, na semana passada, que Portugal precisaria de rever com os seus parceiros da União os termos do plano de ajuda acordado com a troika.
E, não menos curioso, é que entre ambos tenha surgido por parte do ministro das Finanças a admissibilidade de que poderemos precisar de mais tempo para pagar o que nos emprestaram, mais os elevados juros associados a essa ajuda.
Mais do que discutir os termos e os seus significados -- sendo certo que já nem Vítor Gaspar negará a velha máxima de que "tempo é dinheiro" -- é importante constatar como, a escassos dias da chegada da troika para a sétima avaliação, a política europeia e suas decisões se tornam tão mais claramente decisivas para nós.
Quando a troika se for embora o mais provável é que voltemos à lengalenga: Não conseguimos porque erramos na nossa receita ou porque a nossa receita foi alterada pelo comportamento da União? Afinal, temos mais tempo ou mais dinheiro? Pedimo-lo porque não tínhamos outro remédio ou fomos premiados porque tomamos com rigor os remédios que nos deram?. E, assim, voltaremos a perder de vista a nua a crua realidade que nos aproximou por estes dias: sem a Europa solidária não seremos capazes.
E, no entanto, há uma coisa que ninguém poderá fazer por nós: uma economia própria mais produtiva, capaz de gerar mais riqueza, recuperar mais postos de trabalho, recriar melhores níveis de consumo e dar um futuro às nossas inúmeras pequenas e médias empresas.
Ora, esta questão, que é, afinal, a do perfil de solidez do nosso mercado interno, requer uma estratégia nacional para a qual os nossos parceiros europeus não são chamados a participar. Não é impossível ter uma estratégia de defesa do que é nosso mesmo que limitados pelas regras da moeda única e do mercado comunitário.
De resto, com o nível de impostos a que estamos obrigados e que asfixiam a classe média, nem sequer parece que haja alternativa a um caminho que não passe por aumentar a nossa produtividade e a nossa capacidade para voltar a consumir de um modo razoável.
Fugir a isto seria de um aventureirismo muito perigoso.
PS: Afinal houve um erro na publicação da lei de limitação de mandatos. Encontre-se o redator do erro e puna-se. Entretanto, caíram os argumentos dos que queriam ganhar em tribunal uma guerra política. Que respeitem a democracia.