A liberdade de imprensa precisa de apoios
No dia 25 de abril, celebro, acima de tudo, as liberdades de pensamento, de expressão e, claro, de imprensa. A caminho do meio século das celebrações, a Festa dos Cravos tem muito caminho a desbravar a esse nível. No campo dos média, é urgente garantir a sustentabilidade dos atuais projetos editoriais. Porque, sem meios, o jornalismo não sobrevive. E isso é um (enorme) risco para a democracia.
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Em 2015, perguntei a 100 jornalistas quais os maiores constrangimentos da sua profissão. A maior parte respondeu que as limitações mais expressivas eram de ordem económica. Não há dinheiro para desenvolver um jornalismo de investigação, para fazer reportagens com tempo, para usar diferentes meios que garantam a auscultação de várias fontes de informação, para procurar outros temas, outros ângulos, outras formas de dizer e dar a ver/ouvir a atualidade... Nestes últimos anos, nada melhorou. Pelo contrário.
Analisando os números das vendas de vários jornais, constatamos que se vem registando uma diminuição de leitores. Porque as pessoas se afasta(ra)m do jornalismo (pago), é verdade, mas também porque essa informação é cara e, em contextos de crise económica, os cortes começam por este tipo de consumo. Idêntica opção é feita na publicidade. Ora, isto coloca os grupos de média no olho do furacão, sem que ninguém coloque esta questão, como deve ser, no espaço público.
Falemos, então, claro: os média noticiosos estão em crise e o Estado tem obrigação de criar incentivos para combater esse problema. De que forma? Há vários caminhos. Por exemplo, desenvolver (significativos) incentivos fiscais a quem paga por informação jornalística ou subsidiar na totalidade esse pagamento a determinados públicos (por exemplo, estudantes). Esse tipo de apoios afasta o Estado da acusação de poder, com isso, condicionar determinado grupo, porque a escolha da informação a consumir caberia sempre aos cidadãos.
Ninguém duvida de que os média noticiosos são um poderoso antídoto dos abusos do poder, das tiranias individuais, das disfuncionalidades das instituições e das empresas, dos comportamentos ilícitos que aqui e ali fazem (tanto) caminho. Para isso, devem contar com meios adequados ao seu trabalho. E isso hoje escasseia, porque as redações têm cada vez menos jornalistas, sobretudo seniores (que vão abandonando a profissão), e são confrontadas com mais exigências. Aos jornalistas pedem-se diariamente mais peças e mais velocidade nos processos produtivos. E isso está a comprometer seriamente a qualidade e a independência da informação. Não serão estas questões suficientes para abrir um debate público?
*Prof. associada com agregação da UMinho