A lição de Jorge Rebelo de Almeida
Na política, na vida pública e mesmo nos círculos privados, existe um pacto silencioso em que se espera que todos sejamos educados, cuidadosos, estratégicos. Acreditamos, muitas vezes, que ser politicamente correto e evitar confrontos nos garantirá uma posição de influência ou, pelo menos, a ilusão de estabilidade. Mas, e se essa estratégia for a receita exata da mediocridade?
O episódio recente em que o dono do Vila Galé, que criticou abertamente o presidente da Câmara de Lisboa pela sua ineficiência relativamente à limpeza da cidade, é um caso clássico desse paradoxo contemporâneo. Ele disse algo verdadeiro - que Moedas fala muito e limpa pouco, mas logo foi criticado. Não porque estivesse errado, mas porque atingiu um poder estabelecido.
Isso leva a um problema mais profundo. A política e a comunicação pública tornaram-se um campo de jogo onde a verdade importa menos do que a perceção, e onde grandes mudanças são frequentemente impedidas não pela oposição de ideias, mas pelo medo da turbulência. A crítica, quando bem fundamentada, não é uma crise de comunicação, mas sim um elemento essencial para o progresso. O que impede avanços não são os embates diretos, mas sim o culto à reverência vazia, à manutenção de equilíbrios artificiais e ao receio de ferir suscetibilidades.
O que o empresário Jorge Rebelo de Almeida fez não foi errado. Pelo contrário, foi um ato de clareza. Grandes feitos exigem pensamento reto, sem distrações com salamaleques burocráticos ou deferências aos pequenos poderes que apenas perpetuam o status quo. Se queremos construir algo realmente grandioso, devemos abandonar o receio infantil de desagradar e resgatar a coragem de dizer o que precisa de ser dito, mesmo que incomode.
A grandeza nunca nasce do medo.

