A crise se não toca a todos anda lá perto....Os números ontem revelados pelo Instituto Nacional de Estatística são eloquentes: quem ainda não foi apanhado pelo rolo compressor do desemprego está a ter cada vez menores rendimentos salariais, não obstante confrontar-se com a subida geral do nível de vida e o confisco do Estado.
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Se houve um tempo no qual a ideia de generalização de bem-estar passava pela tentativa de aumento do pecúlio dos menos afortunados, hoje a tendência aponta para o empobrecimento generalizado. Os pobres estão cada vez mais pobres, mas a classe média e média alta, fundamental para agitar pela positiva os indicadores económicos, também pela via do consumo, tende a ser arrastada para um mesmíssimo patamar de miséria.
O segundo semestre deste ano não deixa margem para dúvidas: o número de salários abaixo dos 310 euros cresceu 9,4% e os superiores a três mil euros sofreram uma quebra de 17,5%. Isto é: os já de si pobres estão em situação cada vez mais aflitiva, mas há uma tendência para se aproximar do mesmo patamar os remediados e o grupo - não tão grande assim - dos que ainda são capazes de ir um pouco mais além da roupa de contrafação e dos produtos alimentares de linha branca.
A degradação das condições de vida dos portugueses generaliza- -se, pois. Embora os defensores da uniformização de classes - por baixo, por baixo - argumentem em sentido inverso.
O processo de convergência negativa em curso tem apaniguados, a começar pelos mangas de alpaca atentos e agradecidos aos socorristas de serviço à mais do que iminente bancarrota do país. Afinal, em situação de necessidade extrema, depois de anos e anos de erros crassos de governação e facilitismo, é simplista a elaboração de um raciocínio seguidista.
A complexidade do momento, aceita-se, torna praticamente impossível o debate de alternativas ao garrote aplicado pelos credores nacionais. À luz da frieza dos números da catástrofe, desaconselhável é, em todo o caso, manter uma linha de defesa do indefensável.
Para a agenda do previsível recrudescimento dos movimentos sociais de protesto impõe-se a inscrição de uma iniciativa fundamental: o envio para os principais intérpretes do chamado memorando da troika, quer na conceção quer na execução, de uma folhinha A4 (pode seguir por e-mail, facebook ou outra modernice) contendo a célebre história do burro do inglês. A maioria dos decisores são uns ignorantes nesta(s) matéria(s). Vale uma aposta?