Os ministros das Finanças da Zona Euro chegaram ao acordo que se esperava: libertaram 110 mil milhões de euros para ajudar a Grécia. Ou melhor: para ajudar a Grécia e salvar o euro. A nós, portugueses, cabe-nos emprestar aos gregos 2 mil milhões de euros. Contas feitas, dá cerca de 200 euros por português. Se tudo correr bem - e não é líquido que corra -, a Grécia devolver-nos-á o montante com juros.
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A ajuda tem um elevado preço. Imagine que, de repente, o Governo decidia o seguinte: os funcionários públicos perdem, nos próximos três anos, os subsídios de férias e de Natal, sendo que aumentos salariais estão postos de parte; entradas na Função Pública congeladas; reformas igualmente congeladas; subida do IVA; mais impostos sobre combustíveis, álcool, tabaco e lucros das empresas. É isto que a Grécia está obrigada a fazer durante os próximos três anos - isto e muito mais, se estas medidas não chegarem para trazer o défice das contas públicas para números aceitáveis.
A pergunta, legítima, que todos nos colocamos é: será Portugal obrigado a trilhar um idêntico caminho? Trata-se de um exercício de mera adivinhação. Os pessimistas dizem que sim; os optimistas juram que não. Os optimistas acham que os especuladores são os únicos culpados da crise em que mergulhámos; os pessimistas entendem que os especuladores são apenas uma pequena parte do problema - a grande tem a ver com as (más) políticas escolhidas pelos governos portugueses ao longo das últimas décadas.
Sendo certo que não é possível montar uma comissão parlamentar de inquérito para concluir se a culpa é de Cavaco, Guterres, Durão, Santana ou Sócrates (ou de todos, em doses diferentes), a nós resta-nos roer as unhas...
O que está a acontecer na Grécia deve servir de exemplo e exigir reflexão a Portugal e aos portugueses. Não se trata apenas de metermos na cabeça que é preciso poupar. Essa é, de resto, uma evidência que há muito tentamos contrariar. Trata-se, sobretudo, de colocar o ponto onde ele deve ser colocado: na economia. Cito o professor Alberto Castro: "Se não formos capazes de reorientar o esforço de crescimento para crescer pela produtividade e pela competitividade externa, então resta-nos, como melhor dos cenários, sermos como Cuba. E, no pior, como a Coreia do Norte".
Assusta? Assusta e muito. Mas é verdade. E é por ser verdade que se torna tão ridículo ver o Governo apresentar a reavaliação de uns troços da auto-estrada do centro ou os cortes no subsídio de desemprego como exemplos daquilo que está disposto a fazer para controlar as nossas contas. Isso quer apenas dizer que a lição grega não foi aprendida. Roamos as unhas...