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Com a conta da luz mais cara desde o primeiro dia do ano, vem-me à lembrança que os novos donos da EDP só comemoram o ano novo daqui a dias, lá para a primeira semana de fevereiro, a coincidir com a primeira Lua Nova do ano, agora do Macaco, um dos 12 animais do zodíaco chinês.
Nós a apanhar as canas e eles ainda a atear o rastilho. Têm ao menos a boa tradição de saldar as dívidas antes do começo do novo ciclo lunar, capricho a que por aqui não nos podemos dar ao luxo. E fogo de artifício é com eles, que aliás inventaram a pólvora mais de mil anos antes do nosso Afonso Henriques ter dado a primeira mamada. A descoberta, acidental, deve-se a alquimistas que procuravam pelo elixir do amor e da longa vida, e parece que adivinhavam eles no que isto iria dar, resultado de misturas não recomendáveis.
Aliás, a última vez que nos calhou ser ano do Macaco, tínhamos no Governo uma aliança entre Durão Barroso e Paulo Portas, Sócrates estava para vir, e deu tal ciclo no que deu, para eles e para nós, passados 12 anos lunares. Dizem os entendidos que há misturas que não dão, de todo. A última vez em que, num ano do Macaco, coexistiram os elementos madeira e metal foi em 1944, com a Europa em guerra.
Entre nós, que alimentamos os secretos desejos que formulámos na madrugada de anteontem, nada de alarmismo, porém. Mantenhamos o espírito da quadra, e vamos a este 2016 com vigor e alegria, porque ainda nenhum futuro está escrito nos astros. Dizem os astrólogos que António Costa, Boi no zodíaco chinês, dá-se bem com anos do Macaco. E correndo bem para ele, não há de haver razão para que corra mal para nós.
E temos ano bissexto, também, um bónus que nos acontece de quatro em quatro anos, tal como os Jogos Olímpicos (a dor de cabeça que aquilo vai ser no Rio!), e o Europeu de futebol. Mas deste - que nos perdoem a Islândia, a Áustria e a Hungria - só podemos esperar alegrias, pelo menos até aos quartos de final.
É certo que vivemos tempos incertos, e que não bastará o otimismo para resolver a pobreza e o desemprego, as marés de refugiados que hão de continuar a dar à costa, a guerra à nossa volta, ou os loucos como Donald Trump.
Mas deixem-me que vos diga da minha devoção por Corto Maltese, meu herói preferido da banda desenhada. Marinheiro de muitos mares, e tendo nascido sem linha da fortuna, ele próprio a desenhou com uma navalha, cortando-se na palma da mão, como quem diz: o destino sou eu: sou eu que o traço. Que é, na verdade, o que todos deveríamos ambicionar no ano novo. Mesmo sem navalha. Basta a pontinha de vontade.
* Diretor