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A Linha do Douro tem sido notícia pelos sucessivos atrasos nas obras de requalificação, mas o problema vai muito além da infraestrutura. Esta ferrovia é um símbolo do abandono persistente do Interior e da falta de visão estratégica para uma região que é, ao mesmo tempo, histórica, turística e economicamente determinante.
Entre o Porto e o Pocinho, o traçado acompanha um vale único e liga quatro locais classificados como Património Mundial da UNESCO: o Centro Histórico do Porto, o Alto Douro Vinhateiro, as gravuras rupestres do Vale do Côa e a cidade velha de Salamanca. Poucas linhas no Mundo possuem semelhante densidade cultural e paisagística e, ainda assim, a Linha do Douro permanece largamente subvalorizada.
Desde o século XIX, esta via-férrea aproximou comunidades isoladas, transportou mercadorias e deu vitalidade às encostas durienses. O encerramento do troço entre Pocinho e Barca d"Alva, em 1988, representou mais do que a suspensão de um serviço ferroviário: foi um sinal claro da desatenção política em relação às regiões de menor densidade populacional.
No Douro, tudo exige mais esforço - o relevo, a distância dos centros decisórios e a necessidade de infraestruturas adequadas tornam cada atraso ainda mais penalizador.
Reabrir este troço não é apenas corrigir um erro histórico; significa reconhecer o potencial económico e cultural da região, reforçar a coesão territorial e promover um turismo sustentável que respeite a paisagem humanizada do Douro.
Viajar pela linha é viver uma experiência rara: vinhas em socalcos, túneis que se abrem subitamente à luz e estações que contam histórias.
O país não pode continuar a adiar esta decisão. Modernizar e reativar a Linha do Douro é um compromisso com o Interior e com o futuro.
