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Nos tempos que estamos a viver, em pleno século XXI, assistimos na vida pública a situações que nunca esperamos pudessem vir sequer a acontecer.
Depois de muitas revoluções e de conflitos armados, do fim das tragédias do nazismo, do fascismo e do comunismo, eis que o Mundo desperta para outro grande demónio que parece querer restringir os direitos humanos, as liberdades e as garantias constitucionais em nome de uma pretensa segurança. O sistema democrático, que tanto tempo demorou a ser instituído, está agora em crise por causa de um tipo de ideologia a que se chama vulgarmente populismo. Um populismo que nasce na extrema-esquerda e que alimenta a denominada cultura woke que defende, entre outros, o feminismo e o ativismo LGBTQIA+ associados às culturas identitárias, mas também promoveu sistemas como o de Pol Pot, no Camboja, ou a revolução cultural na China maoista e os sovietes russos.
De uma forma radical, a extrema-direita adotou determinados valores, entre outros, assentes numa cultura de ódio dirigida aos imigrantes, que começou em França e rapidamente contaminou a Europa. A situação atinge agora os Estados Unidos da América, a pátria da democracia e do sistema de república. A exemplo de uma lagartixa numa maçã, o populismo mina a democracia e mina a credibilidade das suas instituições. Infiltra-se e depois destrói a mesma à velocidade das redes sociais.
Hitler foi um exemplo acabado, em 1933, de alguém que subiu ao poder de uma forma democrática, tendo destruído as instituições da República de Weimar. Começou com 12 deputados, em 1922, e terminou, em 1932, com 230 lugares no Parlamento alemão. Não vamos referir Mao ou Estaline porque a ascensão de ambos não foi pela via democrática. Hoje assistimos, em França, com a União Nacional ou a França Insubmissa, no Reino Unido com Nigel Farage e noutros países europeus a apelos políticos que colocam em crise as democracias e aliciam os eleitores com promessas que parecem fáceis de concretizar.
Esta luta constante, que tantas vidas tem sacrificado ao longo dos tempos, levanta também aquela velha questão que Max Weber tão bem soube identificar. Dizia ele que só existem duas maneiras de fazer política: por vocação ou por profissão. Parece que, nos últimos tempos, temos demasiada gente a fazer política como profissão. Isto acaba por evidenciar gente mal-preparada e com pouca capacidade técnica para ajudar a implementar políticas que ajudem os cidadãos na sua relação com o Estado e não sejam somente para engordar o seu Orçamento e colocar o mesmo ao serviço de grupos económicos e sociais organizados.
Estamos na encruzilhada de saber separar as boas maçãs das más enquanto é tempo. O presidente da República alertava, recentemente, para a importância da moderação na ação política. É capaz de ter razão.