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Crescemos, a maior parte de nós, na ideia de que progresso é deixarmos aos nossos filhos melhores condições de vida do que as que herdámos dos nossos pais. Era um equívoco. Estudos recentes revelam que a maioria dos europeus nascidos na década de 80 (os chamados "millenials") são a primeira geração desde a Segunda Guerra que chega aos 30 anos com rendimentos menores do que os nascidos na década anterior. Era ilusão nossa: afinal, o elevador não anda só para cima. Quebrou-se o paradigma. E, por cá, bastam-nos pequenos exemplos para confirmar a regra. Um em cada três dos nossos jovens não tem emprego. Quatro em cada cinco novos empregos são a prazo, com salários entre os 600 e os 900 euros. E são mais de 300 mil (os chamados nem-nem) aqueles que, entre os 15 e os 34 anos, nem estudam nem trabalham.
O INE, que conta e monitoriza os nossos números, diz-nos que, apesar de tudo, Portugal está melhor que há um ano em matéria de emprego e, neste particular, também entre o emprego jovem. Mas a chaga do desemprego tem o tamanho do continente, onde a mais dilacerante das feridas é a quebra de expectativas de futuro para toda uma geração. A crescente desigualdade, o empobrecimento das classes médias e o desemprego de quase 25 milhões de europeus, sobretudo os mais jovens, vão ter efeito duradouro, certamente. Mas são, também, a prova acabada do falhanço das políticas dominantes e da arquitetura da União. Na última década, ampliou-se esse outro muro, cada vez mais difícil de transpor, que separa os jovens de um mercado de trabalho mais fragmentado e sobretudo mais precário. Todos os números confirmam que nenhuma outra faixa etária foi tão castigada pela crise como esta geração submetida ao desemprego, ao apartheid salarial ou à emigração. E em boa medida é isso que explica a crise de representação política que afeta muitas sociedades europeias, em particular a Sul.
À beira dos 60 anos sobre o Tratado de Roma, os dirigentes europeus teimam em deixar para trás a agenda social, em detrimento das questões financeiras e da segurança interna, como se uma e outra estivessem acima e para lá da cidadania que nos deveria juntar. Valha-nos, ao menos, que podemos contar com a cumplicidade intelectual do chefe da Igreja Católica, o Papa Francisco, que ainda há dias, desde a Praça de São Pedro, exortou a que a cidadania europeia assuma "a dívida para com os jovens", esses a quem lentamente temos marginalizado da vida pública, obrigando-os a emigrar ou a bater a portas que ou não existem ou lhes estão vedadas. Essa, sim, é a maior dívida. E a mais urgente.
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