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"O quê, a seguir?", perguntava esta semana a revista "The Economist" na peça de rescaldo sobre o bombardeamento norte-americano à Síria com 59 mísseis. Sim, o que esperar, a seguir, de um presidente que tinha repetido até à exaustão que não contassem com ele para que os Estados Unidos da América continuassem a ser o "polícia do mundo"?
Primeiro, estava a América, e para o então candidato isso significava que a atuação no palco internacional, a sua relação com instituições como a NATO e a ONU, era um desperdício de energia e um sorvedouro de recursos que podiam ser mais bem aplicados.
A seguir? A seguir veio uma bomba de 16 milhões de dólares com alcunha talhada para causar efeito, "a mãe de todas as bombas". Caiu sobre o Afeganistão, em instalações do ISIS, e Donald Trump "não sabe se envia uma mensagem para a Coreia do Norte", um problema "que será tratado" e perto da qual, entretanto, já colocou um porta-aviões.
Com um sentido de trágica ironia se pode constatar que o receio nos meios internacionais de um presidente que preferia uma América ausente da resolução de conflitos se está a substituir pelo receio de um que prefere tentar resolvê-los à bomba.
"O quê, a seguir?", questionava qual a estratégia dos EUA para o vespeiro que é a Síria, onde o ataque justificado pela utilização de armas químicas por Assad não parecia gerar nenhuma luz sobre qual será a atitude norte-americana daqui para a frente. Talvez a lógica para este súbito intervencionismo de Trump não deva ser procurada no calor do Médio Oriente ou na gélida Coreia do Norte.
Depois da tremenda derrota do plano republicano para substituir o programa de assistência na saúde Obamacare, com a demissão do seu conselheiro de segurança nacional Michael Flynn e as suspeitas das ligações aos russos a avolumarem-se, provavelmente Donald Trump encontrou no ataque à Síria uma boa forma de tentar uma saída para a confusão em que está transformado o arranque do seu mandato.
É duvidoso que vá funcionar, mas é certo que há muito a temer do comportamento errático de um presidente que se lembra dos detalhes do bolo de chocolate que comia quando ordenou o ataque, mas se engana no nome do país que atacou. Seja por razões de geopolítica, seja por questões de política interna, um Donald Trump à solta pelo Mundo tem tudo para ser um pesadelo de consequências imprevisíveis.
* SUBDIRETOR