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Jane cresceu curiosa e livre. Jovem licenciada embarcou para a selva de onde nunca mais regressaria. É um modo de dizer. Foi e veio a vida toda, da selva para as cidades, da selva para a fundação que criou, da selva para as universidades onde influenciou tantas centenas a ser o que desejassem ser. Tinha o nome da namorada do Tarzan e apaixonou-se pelos chimpanzés. Observou-os como ninguém antes, anos e anos a tirar notas e a concluir que eram muito mais parecidos connosco do que julgávamos. Soube-o primeiro do que o mundo. E mudou as palavras que vinham escritas nos livros de história. Do género, só o ser humano fabrica e usa instrumentos. Não era verdade, foi Jane, a doce revolucionária que fazia jovens investigadores tombar de paixão à sua passagem, quem mudou o que não era passível de mudança. Os chimpanzés fabricavam instrumentos. As mães tratavam dos filhos como nós dos nossos, quando o fazemos com amor. Os machos matavam-se na guerra como nós nos estropiamos nas nossas. Quando começou a pôr tudo em causa, as universidades revoltaram-se, acusaram-na de falsos métodos e erradas conclusões, mas ela prosseguiu. Esteve quase setenta anos no mato, foi a maior de todas as primatologistas e a mais eficaz defensora do direito dos animais e, até ao fim, manteve-se livre, indomável e amada pelos chimpanzés, que quando a viam corriam para a abraçar. Jane Goodall estava nos Estados Unidos em trabalho e deixou-se dormir. Ninguém a conseguiu acordar. Tinha 91 anos.