Um bebé de seis meses foi raptado ontem pelos pais quando estava confiado a uma instituição. O pai saltou um muro, entrou por uma janela, levou a criança, meteu-se num carro com a mãe do bebé e levou-os para casa de um irmão.
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A Unidade Nacional de Contra-Terrorismo da Polícia Judiciária resolveu o caso em poucas horas, e agora o bebé está novamente na mesma instituição. O mesmo aconteceu à mãe, de 16 anos, que também se encontra num centro de acolhimento de emergência - mas não no mesmo onde está a criança. O pai, de 23 anos, não foi encontrado pela polícia.
Não fora o rapto e esta "família desestruturada" seria apenas mais uma sem história. Mães adolescentes e crianças institucionalizadas fazem parte do nosso universo, naquele canto onde guardamos as coisas que não sabemos entender e às quais reagimos com horror e com espanto quando com elas somos confrontados .
Não corro o risco de fazer juízos de valor sobre as pessoas envolvidas: os pais, as respectivas famílias, as instituições de onde onde a mãe e o bebé desapareceram por horas e onde regressaram, as pessoas que decidiram a institucionalização separada de ambos.
Sei apenas, e disso estou segura, que esta é uma história feita de sofrimento e desespero. E que se há algo de essencial que esperamos do Estado é que proteja os que entre todos são os mais frágeis, e que saiba fazê-lo com respeito pelo que de mais humano persiste na sociedade.
O director do refúgio Aboim Ascensão, de Faro, afirma a propósito que o sistema de protecção, acolhimento e adopção de menores está doente em Portugal. Que a lei não é aplicada, que a lei não está a ser cumprida. Diz Luís Villas Boas que há lugares chamados de "acolhimento" que deviam ser fechados, por falta de condições adequadas. "Só nos filmes", comenta.
São histórias destas que nos dão perspectiva sobre o que significa a declaração do homem mais rico de Portugal: "Eu não sou rico, sou trabalhador". Ou esta outra do ex-milionário Joe Berardo: "Num dia a bolsa cai cinco ou dez por cento e isso afecta toda a gente".
Se o sistema de protecção das crianças mais desamparadas do país está doente, há uma exigência que temos o dever de dirigir a quem toma decisões e a quem faz as leis. Porque o rapto de ontem não foi um episódio de uma série policial que vemos na televisão depois de um dia de trabalho. Não é um filme meloso com fim feliz e com lágrimas fáceis. É o mundo real e concreto.
Mãe e filho encontram-se bem? Mãe e filho estão desencontrados.