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Agosto soa-nos bem. Há uma parte de nós que está a banhos e outra a sonhar com eles. Ao contrário, na crença popular dos primos brasileiros, agosto é mês de mau augúrio, "agosto do desgosto". Num país de vistas tão largas e coração tão grande que também é nosso, há lendas para tudo, até para este "mês de cachorro louco".
Vejamos a coisa só pelo lado dos poderosos. Getúlio Vargas, presidente, suicidou-se em agosto. De Juscelino Kubischeck há quem acredite que foi assassinado, mas a tese oficial diz que morreu em agosto, de acidente. Jânio Quadros renunciou em agosto. Luís Eduardo Magalhães, o "príncipe dos deputados", filho do celebrado Toninho Malvadeza, morreu de enfarte fulminante, era agosto. A saga é tão longa que não cabe nesta coluna. Mas até Eduardo Campos, que ainda há um ano disputava a corrida presidencial a Dilma, morreu na antevéspera de completar 49 anos e no mesmo dia da morte do avô, Miguel Arraes, um histórico da resistência à ditadura,... no dia 13 de agosto.
E é para agosto, 16, já no próximo domingo, que se preparam as maiores manifestações de sempre, depois da queda da ditadura militar. Agora, são contra Dilma, a presidente reeleita há sete meses, mas cuja popularidade cai para humilhantes 9%.
Superstições à parte, o Brasil está debaixo de uma tripla e tormentosa crise: política, económica e ética. E o mais grave é que coincidem e alimentam-se umas das outras. Tudo parecia fácil, ainda há pouco, na embalagem de quase duas décadas a crescer, com Fernando Henrique Cardoso e depois Lula da Silva, na presidência. Foram anos de euforia, alimentada pela extensão do crédito e pelo acesso ao consumo de 30 milhões de brasileiros arrancados à pobreza.
Agora, a um ano das Olimpíadas do Rio, que serão em agosto..., a economia derrapa, a recessão espreita, a dívida pública dispara, a inflação ronda os 10%, o desemprego cresce, as taxas de juro também. E, como se não bastassem os 39 ministros que gerem uma administração ineficiente e transformada em balcão de negócios, a política brasileira é sacudida por escândalos de corrupção como a gigantesca rede de subornos na Petrobras.
As suspeitas (operação "Lava Jato"), que estoiram bem perto de Dilma e também de Lula, envolvem dezenas de deputados, funcionários e empresários. Sabe-se agora que, depois do "Mensalão", as metástases desse cancro também chegam a Portugal. E não falta, por cá, quem aposte na possibilidade de a sequela brasileira vir infetar a campanha eleitoral nesta margem do Atlântico. Deus nos livre de tal maldição!