Enquanto um pouco por todo o Mundo temos notícia de manifestações mais ou menos violentas contra as restrições governamentais ditadas pela pandemia, em Portugal regressa hoje à Exponor uma manifestação muito especial. Durante dois dias mais de 4000 profissionais ligados à indústria têxtil e vestuário vão fazer aquela que é a sua manifestação preferida: trabalhar.
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Posso por isso dizer que esta edição 59 do Modtissimo, o único salão da fileira têxtil em Portugal, no atual contexto é uma espécie de manifestação dos que trabalham. Sem nunca pôr em causa as regras sanitárias ainda em vigor, os profissionais da ITV não baixam os braços à espera que os peritos e os políticos reunidos no Infarmed venham anunciar o alívio ou o princípio do fim desta pandemia e das enormes restrições e constrangimentos por ela provocados.
Ao longo destes 30 anos o setor têxtil e vestuário português enfrentou vários desafios, vários choques competitivos, vivendo momentos de expansão, mas também momentos de contração. Esteve por vezes na boca de alguns destinado ao fracasso, no entanto, está a celebrar mais um ano inédito em termos de resultados, com as exportações do setor a ultrapassar os 5,4 mil milhões de euros.
Isto após uma crise sem precedentes à escala global, que impactou toda a cadeia de valor, desde a produção de matérias-primas e auxiliares ao retalho e consumo, com limitações e preços acrescidos no transporte de mercadorias, com sérios constrangimentos no planeamento, gestão de equipas e na ação comercial, com dificuldades de tesouraria e acesso a capital, a que se veio juntar a "crise energética".
A forma como o setor enfrentou a crise sanitária e pandémica é a maior prova da capacidade de adaptação, reinvenção e resiliência das empresas deste setor, dos seus empreendedores e dos seus colaboradores. Ao longo destes últimos 30 anos o setor passou por uma verdadeira transformação, focando-se ora na qualidade dos seus produtos, ora na modernização de tecnologias e processos, no design, inovação e criatividade, apostando no valor acrescentado e na servitização da oferta, sempre com um grande esforço ao nível da internacionalização, procurando novos mercados e clientes, de que são exemplo o investimento e o sucesso na realização de feiras por todo o Mundo para dar resposta à vocação internacional deste setor. Em resultado deste trabalho, o "made in Portugal" é cada vez mais procurado e é sinónimo de qualidade, confiança, serviço, inovação, sustentabilidade, entre outros.
Mesmo em modo de celebração, não podemos esquecer que existem grandes desafios em curso - transição climática, economia circular, transição digital, carência de recursos humanos e competências, capitalização das empresas - e que a ITV deve aproveitar o momento e os meios disponíveis para, mais uma vez, se adaptar e fortalecer toda a fileira.
*Empresário