1 - 150 mil, 200 mil, 250 mil?... Interessa pouco saber quantos se juntaram em Lisboa, na sexta-feira passada. Mais expressivas do que qualquer número foram as imagens que passaram nas televisões, ou as que foram publicadas nas primeiras páginas de jornais. A CGTP foi capaz de colocar um mar de gente na Avenida da Liberdade em protesto contra as políticas do Governo. O que não se consegue apenas por haver dinheiro para pagar umas centenas de camionetas. Foi, antes, mais um sinal poderoso da pressão política e social que envolve o PS e José Sócrates.
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No seu regresso de Cabo Verde, o primeiro-ministro lá se confrontou com a necessidade de comentar os números e os motivos da manifestação. E a reacção foi, como de costume em situações desta natureza, politicamente pobre. Na redutora visão de José Sócrates, aquelas dezenas de milhares de portugueses saíram à rua apenas para o insultar. Sendo que é apenas gente manipulada por comunistas e bloquistas. Imagina-se o tamanho do sorriso de dirigentes de um e de outro partido, ouvindo elogios destes à sua capacidade de mobilização.
No reverso da medalha, enquanto Sócrates demonstra a sua irritação com qualquer manifestação que apareça, Cavaco Silva vai dando conta da sua preocupação e tristeza com a situação que se vive no país. E em Barcelos, quando confrontado com um grupo de operários vítimas do encerramento de fábricas, que se manifestavam à porta da Câmara, decidiu romper o protocolo e oferecer-lhes solidariedade. "Sei que é pouco", disse, "mas não tenho mais para vos dar". É curioso perceber como Cavaco está cada vez menos "cavaquista", enquanto Sócrates vai fazendo o caminho inverso.
2 - Desconcertante a fórmula encontrada por Pinto da Costa para protestar inocência junto do Tribunal que o está a julgar pela acusação de corrupção: "Se eu estou a faltar à verdade, então que caiam todos os males sobre o que mais amo na vida - a minha filha". Não se duvidando do amor do pai pela filha, argumentos desses ainda não servem para decidir, felizmente, se alguém é culpado ou inocente. E até contribuem para transformar o que devia ser um acontecimento solene - um julgamento - numa sessão de mau gosto.
Uma das conclusões que se podem retirar do que se ouviu é que Pinto da Costa é um homem acossado. E que já não sabe bem nem por quem nem porquê. E talvez por isso tenha também aproveitado para pedir castigo divino para todos os que "forjaram a tramóia" em que está envolvido. Tão bem forjada que até o Ministério Público se deixou levar pela mistificação, pedindo a sua condenação.
Ignoro se o presidente do F. C. Porto é culpado ou inocente. Essa é uma tarefa para o juiz que presidiu ao julgamento. Mas independentemente da sentença, o que começa a ser evidente é que o seu tempo como líder dessa grande instituição da cidade do Porto já passou. Ele é que ainda não percebeu.