Corpo do artigo
Nas vésperas do 25 de Abril, graças ao Arquivo Ephemera da iniciativa do José Pacheco Pereira, a Câmara Municipal do Porto proporciona uma visita ao arquivo do político portuense Francisco Sá Carneiro. Arquivo esse que se preservou graças à sua sempre leal e amiga secretária Conceição Monteiro.
Nenhuma cidade portuguesa poderia fazer esta mostra com maior legitimidade do que a sua terra natal: o Porto.
Desde a sua passagem pela inspiração do catolicismo de Emmanuel Mounier que o vai inspirar durante o combate pelo regresso do bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, do exílio após a sua famosa carta a Salazar, até ao momento central da fundação do PPD – o Partido Popular Democrático e depois PSD – Partido Social Democrata. Nesse entretanto, vamos encontrar o seu combate ao totalitarismo gonçalvista, simbolizado pelo PCP (Partido Comunista Português) e a sua chegada ao Governo de Portugal (1979).
Vamos encontrar documentos, textos avulsos, as suas agendas, imensas fotografias que vão ajudar a compreender o Portugal de 1974 a 1980. Encontramos, também, outras referências a Sá Carneiro, como aquelas que mais contribuíram para o assumir do seu personalismo e respeito pelos direitos humanos.
Quis ajudar Marcelo Caetano a fazer a transição para uma sociedade democrática e aberta sem polícia política e com partidos políticos. Compreendeu o que seria o 25 de Abril e cedo, em 28 de setembro, anteviu o que seria o 11 de março. Chegou tarde ao 25 de novembro, por causa da sua doença, mas foi um inspirador com coragem para muita gente, mobilizando para não se aceitar uma nova ditadura.
O seu exemplo, a sua atitude e a sua vontade forjaram um espaço político que se definiu como AD – Aliança Democrática e ainda hoje os seus putativos herdeiros recorrem para procurar copiar as suas vitórias.
Rivalizou com Mário Soares no que seria a afirmação de um espaço social-democrata pela sua crença no Estado social e na afirmação da livre iniciativa na economia. O seu legado foi, mais tarde, sabiamente gerido com sucesso pelo seu antigo ministro das Finanças Cavaco Silva, que acabou sendo o seu mais original herdeiro.
Quando vamos celebrar os 51 anos da Revolução de Abril pareceu avisado ver concretizado este sonho de dar a conhecer melhor o estadista que nasceu no Porto. Alguém que soube romper com as convicções de uma sociedade que ficou parada no tempo pela forma como soube assumir o seu amor por Snu.
Hoje o partido que fundou já não é o mesmo. A conjuntura a isso obrigou, mas ele continua a ser a razão que une os seus militantes e o sentido que permite a muitos portugueses escolhê-lo para governar. Pena é que muitos não compreendam que o passado nada mais é do que uma construção do futuro quando pretendemos viver o presente.