A pior crise que o Mundo vive é mesmo a falta de respeito pelos direitos humanos. Pai e filha estiveram juntos até à morte, abandonados por uma série de responsáveis políticos que se estão nas tintas para os filhos dos outros.
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Óscar e Valéria morreram afogados nas águas do rio Grande, como tantos outros migrantes que procuram uma vida melhor nos EUA. Mas a morte deste jovem salvadorenho e da sua filha bebé não vai mudar nada, mesmo que o abraço final tenha ficado registado numa foto com a força de uma bomba.
Não vai mudar como não mudou a foto dramática do menino Alan Kurdi, que morreu afogado numa praia da Turquia, após o naufrágio de duas embarcações com refugiados sírios. A geografia foi outra, mas a comoção é a mesma. Assim como a hipocrisia. As duas fotos serão apenas símbolos do horror humano e dos dramas vividos na costa europeia ou na fronteira norte-americana. Quem manda não se comove com fotos. Nem com estas.
Muitos Óscares e Valérias fogem da miséria e da guerra e muitos Trumps fogem das responsabilidades que têm com o Mundo, ignorando que os seus atos não estão confinados à governação apenas dos seus países. A defesa da dignidade humana não se pode ficar só por clichés nem ser combatida apenas com frases bonitas, como num concurso de misses. E quando Óscares e Valérias continuarem a morrer no silêncio do desespero e na esperança de sobreviver, mas já ninguém ficar impressionado? Três anos depois, quem ainda se lembra da criança síria que faleceu no Mediterrâneo? A exceção não pode tornar-se regra. A realidade continuará a ser bem mais dura para quem passa o rio a carregar um filho às costas do que para quem navega na Internet. Os sonhos roubados no Mediterrâneo ou na fronteira entre o México e os EUA têm culpados. Não nos podemos esquecer dos seus rostos.
*DIRETOR-ADJUNTO