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Os grandes números mandam. A economia portuguesa não tem saída apenas com as políticas macroeconómicas. Sem uma base de PME capazes de concorrer nos mercados internacionais, seja cá dentro, substituindo importações, seja vendendo lá para fora ou lá fora, a recuperação sustentada é uma ilusão. Não se leve, porém, essa lógica ao extremo que, por vezes, domina o discurso ignorando, ou menorizando, o papel que as grandes empresas podem, e devem, ter nesse processo, incluindo a sua relação com as empresas de menor dimensão. Os últimos tempos têm sido férteis em notícias que indiciam o despertar de ambos os tipos de empresas para as vantagens da articulação e colaboração recíproca, seja tácita seja explícita. Por natureza mais estruturadas e mais formalizadas, eventualmente mais bem geridas, as empresas de maior dimensão podem fomentar e acelerar a aplicação de métodos e práticas pelas PME que com elas se relacionam e que, de outro modo, demorariam mais tempo a ser adoptados. Como aqui se referiu na semana passada, muito para além dos custos de contexto, o problema de competitividade das empresas portuguesas, sobretudo das de menor dimensão, radica na qualidade da sua gestão.
As formas como essa melhoria pode ocorrer são variadas. Há empresas que exigem dos seus fornecedores a subscrição de códigos de conduta contendo preceitos de responsabilidade social e sustentabilidade que são, hoje, padrão base no negócio internacional. Em alguns casos esses círculos de fornecedores, até aqui sobretudo informais, começam a ser organizados numa lógica voluntarista de internacionalização. Ainda na semana que passou, a EDP levou a S. Paulo algumas dezenas de fornecedores para os apresentar ao grande mercado brasileiro. No ano que passou, directa ou indirectamente induzidos pela EDP, terão já facturado mais de 700 milhões de euros fora de Portugal. Não o suficiente para fazer a diferença mas um razoável ponto de partida. No sentido inverso, a Cimpor organizou um evento em que se propunha trazer até Portugal algumas das maiores empresas da América do Sul, facilitando o contacto com potenciais compradores e parceiros, assim baixando os custos de entrada em mercados a que muitos adivinham grande potencial de crescimento.
Um estudo encomendado pela Câmara de Comércio Luso-Alemã tem, em parte, uma lógica semelhante embora pretenda ir mais longe. Evidencia razões para a incipiente presença das empresas portuguesas em território e mercado alemães, dando pistas para o que deve ser feito por banda das empresas e deixando preciosas orientações para que as políticas e as práticas das agências públicas de internacionalização sejam mais eficazes. Ao mesmo tempo, torna patentes os factores que condicionam a capacidade de Portugal atrair investimento alemão, não deixando, contudo, de apontar aquilo que os alemães consideram as nossas forças e vantagens. Entre elas sublinhe-se o reconhecimento das qualidades da nossa força de trabalho, a sua capacidade de aprendizagem bem como a aptidão das nossas empresas para se ajustarem às novas exigências de qualidade ou inovação quando estas são convenientemente explicitadas.
Essa é, consensualmente, uma das razões para não conseguirmos ir mais depressa e mais longe: somos incapazes de tornar o processo de inovação consequente, de "chutar à baliza". Investiu-se em investigação, subiu-se no ranking da despesa que lhe é dedicada, mas os resultados não aparecem. Neste contexto, a iniciativa da Galp de criar um núcleo de investigação, generosamente financiado, envolvendo as principais universidades portuguesas e várias empresas e instituições com afinidades ao negócio petroquímico, deve ser saudado já que não parece que a motivação haja sido mecenática.
O Estado nada teve a ver com estas iniciativas. Em quase todas há o envolvimento simultâneo de grandes empresas e PME. Em todas há um propósito de produzir resultados. Haja esperança!