O que se passa no Bairro da Pasteleira Nova, no Porto, devia encharcar de vergonha todos os poderes públicos e políticos com competências no combate ao tráfico e consumo de droga.
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Sabe-se, há mais de duas décadas, o que ali se passa. Conhecem-se as causas e consequências do problema, nas suas mais variadas cambiantes. Mesmo assim, tirando um outro espasmo de indignação, normalmente associado a ciclos políticos, consente-se a degradação.
Olhemos para o que, parecendo lateral, é substancial.
Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, escreveu à ministra da Defesa, pedindo-lhe que tomasse conta do que lhe compete: o Quartel de Manutenção Militar e a Casa da Superintendência são poiso regular dos toxicodependentes que se abastecem na Pasteleira. Há ali um problema de segurança. A senhora ministra pode, por favor, intervir? Coisa simples e educada, portanto.
Na volta, o autarca recebeu um ralhete de Helena Carreiras. Intervir já a ministra interveio: mandou emparedar os vãos e vedar as entradas. Mais: ordenou ao exército que fizesse rondas. Se não chega, há que ter paciência: daqui a nada, o Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana tomará conta do espaço, para ali construir casas. A partir daí a ministra lava as mãos e risca a chatice da agenda.
Sendo dirigido a Rui Moreira, o tom azedo da missiva ministerial resulta num desprezo pelo Porto, pelos portuenses e, sobretudo, pelos que usam as instalações do Estado para satisfazer vícios que destroem vidas. Que uma representante do Estado seja com isso complacente é coisa de gosto duvidoso.
A arrogância costuma andar de mão dada com a incompetência. É o caso. Na Pasteleira Nova, isto conta pouco. Na política, devia contar muito.
*Jornalista