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Já ninguém duvida que muito dificilmente António Costa deixará escapar o cargo de presidente do Conselho Europeu. Em política, nada é 100% garantido, até porque os países nórdicos ainda não perderam a esperança na candidatura da primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, que é considerada mais alinhada com as suas posições em matéria de defesa e migração.
Mas, afinal, ainda há óbices jurídicos ou morais que possam inviabilizar a viagem europeia de Costa? A resposta será sempre subjetiva. Costa não foi formalmente acusado de qualquer crime, mas era primeiro-ministro quando terá ocorrido um caso de tráfico de influências que levou à sua própria demissão. Já foi ouvido pelas autoridades e não foi constituído arguido. No entanto, o processo não está concluído. Se avançar para Bruxelas, não será nada de inédito. A recandidata a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, estreou-se no cargo quando ainda decorriam, na Alemanha, os trabalhos de uma comissão parlamentar de inquérito sobre contratos adjudicados sem a devida supervisão durante o seu mandato como ministra da Defesa. Nesse aspeto, Costa e Leyen ficarão em posições similares.
Michele Bocchiola inovou ao colocar uma questão muito simples: a corrupção política é sempre imoral e má para a sociedade? O filósofo italiano considera que há circunstâncias em que a corrupção pode não ser tão moralmente problemática quanto isso. Bocchiola propõe uma avaliação baseada num contexto mais amplo de consequências e intenções. O contexto explicará, por exemplo, as estantes forradas de dinheiro na residência oficial do primeiro-ministro?