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Há uns anos lutei pela continuidade de um projeto jornalístico e perdi. Foram dias difíceis que me transformaram num outro, sem dúvida mais solitário e menos propenso a provas de solidariedade coletiva. Descobri que, nos momentos decisivos, estamos sempre por nossa conta - numa Redação e na vida.
Se o jornalismo matou uma parte do que fui, é justo sublinhar que também me ofereceu a possibilidade de me redimir. Tenho a honra de escrever no JN. Um projeto de referência na história do país que correu o risco de desaparecer e, se tal não aconteceu, deveu-se a um esforço coletivo dos jornalistas, cada um juntou as forças com quem estava ao lado para resistir ao que diziam ser inevitável. Mulheres e homens de coragem. Gente que arriscou o melhor das suas vidas.
Isto a propósito da revista "Visão", o lugar onde comecei, mais a sério, a carreira de jornalista. Saiu ontem o que, para a Administração e os insolventes, seria o último número com a Lídia Jorge na capa. A partir de hoje, sexta-feira, os jornalistas deixaram de ter um lugar onde trabalhar, o diretor entregou as chaves e fechou a porta para sempre. Apesar disso, e da certeza de que não poderão receber ordenado ou o que têm em dívida, decidiram que ali ninguém desiste, que na próxima semana tudo farão para que a "Visão" continue viva nas bancas. Decidiram que cada um trabalhará a partir de casa, que se for preciso montam guarda aos servidores para que a última luz não se apague. Obrigado por me terem feito acreditar que estar sozinho não pode ser um motivo de orgulho.