A morte dos imortais
A morte de Rita Lee, principalmente no Brasil, mas também em Portugal, deixou grande emoção. Há cada vez mais heróis nossos a morrer. Mas quando antes morriam de overdose e viviam demasiado depressa, hoje morrem de cancro como nós. Será que já não são imortais?
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Se, por um lado, a morte prematura envolve os nossos artistas preferidos numa aura de tragédia e romantismo, conferindo-lhes uma qualidade quase mítica; por outro, uma carreira longeva de várias décadas permite a construção de um acervo vasto e uma evolução da sua arte.
Ninguém tem dúvidas de que o Caetano Veloso de "Transa", "Noites do Norte" ou "O meu coco" pertencem a épocas e mesmo a "vidas" diferentes. Será por isso mesmo que os artistas que viveram menos tenham deixado uma marca forte, mas ninguém tem dúvidas de que, com o seu desaparecimento prematuro, ficamos sempre a perder.
Há, entretanto, na atualidade, um terceiro elemento nessa equação: a tecnologia. A era digital desempenha um papel fundamental na preservação e disseminação da obra desses artistas, perpetuando-a e tornando-a praticamente ubíqua, disponível para as futuras gerações.
Também por isso, mais que nunca, a arte transcende. A despeito de terem vivido mais ou menos, nossos grandes ídolos conseguiram imortalizar-se e as suas obras estão aí, servindo-nos de lembrete. A vida é sempre efémera, a arte é sempre eterna.
Mas para cada um de nós, mesmo que não o formulemos conscientemente, o mais trágico é perceber a "outra" dimensão do impacto da morte dos nossos heróis. Como eles também representam a nossa juventude, o seu desaparecimento coloca-nos a todos mais perto da morte. Esse é soco no estômago.
*Presidente da Associação Portugal Brasil 200 anos