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Um homem de 47 anos saiu do seu próprio julgamento em liberdade. Poucos imaginariam tal enormidade, afinal aquela pessoa fora acusada da prática de 362 crimes sexuais contra as próprias filhas. Por isso, quando a juíza leu a sentença de pena suspensa “ouviu-se” na sala espanto e terror. As duas filhas não tinham conseguido acusar o pai em tribunal, às perguntas responderam com lágrimas e silêncio. A juíza não decretou pena suspensa pelo que fez às filhas, mas por provadas agressões sexuais a sobrinhas também menores – só por isso foi condenado, apesar de ter saído em liberdade. No Tribunal de Leiria a juíza era uma mulher. Como é possível não me indignar mesmo sabendo que quando nos enfurecemos deixamos de pensar com clareza? Uma mulher que com estes indícios decide colocar em liberdade um violador das próprias filhas? Um tio que violentou as próprias sobrinhas? O que passa pela cabeça de uma juíza que, protegida em formalismos, decide voltar a escancarar a porta do mais profundo inferno àquelas miúdas cujas vidas se tornaram despojos?
Esta juíza, esta mulher, fez mais pela morte da democracia, pelo seu agónico estrebuchar, do que dezenas de manifestações do Chega contra a liberdade. Com decisões assim, só me resta fazer as malinhas e preparar um plano de fuga. Não pelo receio de combater por uma ideia de bem, mas pelo absoluto horror de um dia ser obrigado a dizer que André Ventura tem razão. Se esse dia nascer é sinal que morreu tudo o que eu acreditava.