O fim de tarde de quarta-feira caía por entre uma chuva miudinha que, em Braga, é costumeira. O centro esvaziava-se, mas aquela mulher persistia na sua vontade férrea de dar um presente ao presidente da República. Disseram-lhe que passaria ali, seguindo uma agenda não pública. Era moçambicana, estava em Portugal há mais de 40 anos e queria oferecer a Marcelo um guarda-chuva, feito por ela própria, artesã de ofício.
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À procura dos portugueses espalhados por um território espiritual: eis o modo como o PR tem procurado celebrar o 10 de junho como chefe de uma nação que Marcelo Rebelo de Sousa não quer ver circunscrita ao território nacional. Este ano, a data cumpre-se entre Braga e Londres. A ideia começou a concretizar-se no primeiro ano do primeiro mandato, com celebrações entre Lisboa e Paris. A 11 de junho de 2016, em Champigny-sur-Marne, comuna nos arredores da capital francesa onde residem milhares de emigrantes e lusodescendentes, o PR prometeu institucionalizar este modo de assinalar o 10 de junho: "é bom que os portugueses que vivem no território físico de Portugal se habituem a admirar e a homenagear os que vivem fora desse território".
Aquela mulher que esperou, mais de duas horas, numa das ruas de Braga, pelo presidente sabe que Marcelo valoriza portugueses. Conhecera o seu pai enquanto governador-geral de Moçambique. Admirava-o ao longe, tal como hoje segue o filho com enorme interesse. Por isso, ali está com um vistoso embrulho de papel metalizado verde nos seus braços para entregar em mãos ao chefe da Nação. Mal adivinhara a festa que ele faria com aquela oferta, nem que entabularia uma conversa sobre guarda-chuvas com o próprio Marcelo tal como faz na sua loja de artesanato com os seus mais fiéis clientes. De tão atrapalhada que estava quase nem conseguia abrir o seu guarda-chuva que também queria mostrar. "Ainda o vou estragar", diz. "Não faz mal. Eu estou habituado a consertar estragos", atira-lhe o presidente. Depois de uns largos minutos nesta conversa, Marcelo despede-se para acelerar na sua agenda. A mulher corre atrás dele. "Senhor presidente", balbucia, "aconteceu uma tragédia! Esqueci-me de tirar a máscara nas fotografias. Podemos repetir as selfies?". "Claro", responde Marcelo. Poder-se-ia ver ali um gesto encenado para um bom momento de televisão. Mas, àquela hora, Marcelo não tinha nenhum jornalista à sua volta. Apenas o acompanhavam meia dúzia de pessoas. Hoje e amanhã, tudo será diferente, mas o presidente continuará a querer ir ao encontro dos portugueses com igual fervor.
*Prof. associada com agregação da UMinho