Os nossos banqueiros são normalmente parcos nas suas afirmações e muito reservados em relação a prognósticos. Na semana passada, porém, a reflectir provavelmente o "grau abaixo de zero" a que chegou a crise económica e financeira, em dois eventos ligados às suas matérias realizados pelo "Diário Económico" e pela revista "Exame", chamaram a atenção, com grande veemência, da gravidade da situação em que se encontra o país. Alguns não fugiram totalmente ao tom cauteloso das suas advertências. Mas foram suficientemente claros para dizer que há todo o perigo de uma "bancarrota" do país.
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Entre todos, o presidente do BPI, Fernando Ulrich, foi radical. E sem "as formas elaboradas" dos outros colegas, mas de um "modo mais rústico", como disse, alertou: "Estamos mais perto do que julgamos de bater na parede". "E bater na parede" significa a "República suspender pagamentos", "os Bancos suspenderem os créditos".
A este inequívoco sinal de alarme, seguiram-se duas posições: houve quem considerasse uma atitude frontal, sem contemplações; alguns, na esteira do primeiro-ministro, consideraram declarações "incendiárias".
Das vezes que tenho ouvido, publicamente, Fernando Ulrich interprete-o como um banqueiro de discurso directo, honesto, sem rodeios. A verdade é que, nesta delicada área, se abre aquela fronteira que, no discurso público, pode ser recomendável existir entre o verosímil e o eufemístico em virtude dos efeitos perversos socialmente imprevisíveis.
De facto, estamos num caso em que a "grande maioria dos portugueses - como diz Faria de Oliveira, o presidente da CGD - não tem a percepção da gravidade da situação". Pois, se tivessem, ao ouvir esta "previsão", todos acorreriam aos bancos a levantar o seu dinheirinho para, de novo, fazer do colchão o seu cofre.
Ora, a situação real é grave. Convém, todavia, que ninguém se ponha fora das responsabilidades. A nossa dívida externa não está excessiva só à custa dos desvarios do Estado. Dos governos. A dívida dos privados, das empresas, dos próprios bancos é também enorme. A queixa, verdadeira, de que há muito vivemos para além das nossas posses não pode ser só da (ir)responsabilidade dos cidadãos.
Há muito tempo que vivemos sob o signo publicitário "compre primeiro e pague depois". E, nesta conta, há uma cota enorme na publicidade subliminar dos produtos bancários.