Parto de duas efemérides de outubro: a não-violência e a saúde mental.
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O Dia Internacional da Não-Violência tem como propósito a promoção da não-violência e da paz, através da educação e sensibilização. O 2 de outubro de 2022 ficou marcado pelo lançamento de uma iniciativa cidadã: "Fim à tauromaquia, por favor". Esta iniciativa resulta de uma inequívoca vontade social em rejeitar o entretenimento violento que implica o maltrato e sofrimento de animais e a exposição de pessoas à violência, conscientes da enorme possibilidade de transferibilidade da violência observada para outros contextos. Claro que os "what aboutistas" vão perguntar se o foco, neste momento, não deveria ser outro assunto (seja ele qual for). Evidentemente que qualquer pessoa consciente sabe que a guerra na Europa rapidamente pode escalar, ou que estamos perante uma proposta de Orçamento do Estado que é uma maquilhagem para os problemas reais. Poder-se-ia, por isso, argumentar que é nestas enormes preocupações que temos de - em exclusivo - nos concentrar. Mas para além dos assuntos não serem estanques, os avanços civilizacionais não podem esperar mais. No nosso país, as pessoas têm, por enquanto, o poder de decidir em que lado da História querem ficar. O momento deste avanço civilizacional é quando as pessoas querem que ele aconteça. E pode ser: o agora!
Quanto ao Dia Mundial da Saúde Mental, nunca é demais lembrar a dimensão emocional, psicológica da pessoa humana, enquanto ser biopsicossocial que é. Dizia o ministro da Saúde que as respostas, em saúde mental, têm de começar nos centros de saúde. Ora, isso estava previsto para 2008 no Plano Nacional da Saúde Mental que esteve na gaveta demasiados anos e que, face às necessidades existentes, vai andando demasiado devagar. Neste país, as pessoas esperam cerca de meio ano por uma consulta de psicologia e a seguinte será espaçada, o que afetará profundamente os resultados da intervenção. Quando são atendidas, a possibilidade de prevenção já se perdeu significativamente e o sofrimento emocional, associado à incerteza, ao tempo de espera e à falta de intervenção especializada, agudiza os problemas.
* Dirigente do PAN