O primeiro-ministro não gosta de substituir governantes, muito menos aceita fazê-lo a reboque de pressões mediáticas. Acontece que, desta vez, a realidade é demasiado pesada para que tudo continue na mesma. Há ministros tão invisíveis que parecem não existir e outros que atuam em excesso.
Corpo do artigo
É inadmissível o folhetim desta semana à volta do chefe do Estado-Maior da Armada. Como se percebeu nas declarações do presidente da República, o ministro da Defesa colocou em público decisões que não eram exclusivamente suas. E, com isso, também pôs em causa a possibilidade de o vice-almirante Gouveia e Melo vir a ocupar o lugar. Ou seja, fez tudo mal e, com isso, abriu ostensivamente uma frente de colisão com Belém. Um ministro inábil numa pasta sensível. Também o ministro da Administração Interna vem acumulando sérios episódios políticos: a controvérsia das golas antifumo que afinal eram inflamáveis, o mau funcionamento do SEF e a morte de Ihor Homenyuk, a polémica em torno dos imigrantes de Odemira e da requisição civil do Zmar, o atropelamento mortal feito pela viatura oficial... É verdade que esta é uma das pastas mais difíceis do Executivo, mas o desgaste tornou-se excessivo.
Por outro lado, há governantes politicamente inexistentes à frente de pastas importantíssimas para o futuro do país. É o caso do ministro do Planeamento. Tendo em mãos a gestão de fundos comunitários, sobretudo do Plano de Recuperação e Resiliência, não se percebe qual é o seu papel político, porque nada surge em público a dar conta disso. António Costa tem chamado a si este dossier, Siza Vieira desdobra-se a divulgar o PRR, mas do titular da pasta nem sombra. Também ninguém ainda percebeu o que faz o ministro do Mar. Para além das quotas de pesca, de resto ditadas pela Comissão Europeia, nada parece acontecer que reforce a centralidade do tema oceânico nas nossas políticas, incluindo a expansão da nossa plataforma continental.
Há governantes politicamente inexistentes à frente de pastas importantíssimas para o futuro do país. É o caso do ministro do Planeamento
O tempo de uma remodelação será sempre aquele que um primeiro-ministro julga ser o melhor para o funcionamento da sua equipa, mas há ministérios que não podem estar envolvidos em tanta polémica ou simplesmente não terem políticas de relevância pública. A ser assim, uma remodelação torna-se inevitável, sobretudo num contexto em que se acendem luzes amarelas que refletem mudanças de posicionamento do xadrez político. Do último domingo, António Costa deveria guardar uma frase de Carlos Moedas: "este novo ciclo começa em Lisboa, mas não vai acabar em Lisboa".
Prof. associada com agregação da UMinho