Em 1987, as universidades de Aveiro, Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), Porto e a Universidade Católica, através do seu Centro no Porto (UCP), uniram-se para criar a Associação das Universidades da Região Norte (AURN). Os propósitos eram óbvios: coordenar actividades, promover iniciativas conjuntas, contribuir para o desenvolvimento da região. A inclusão de Aveiro, oficialmente pertencente à região do Centro, evidenciava quais eram as suas relações mais fortes. A AURN era um acto contra a corrente, voluntarista, revelador de uma visão partilhada pelos que, à altura, dirigiam aquelas instituições. Uma visão de quem dirigia, longe de ser assumida pelas estruturas. Desde a sua criação, a AURN foi incapaz de criar uma dinâmica que se aproximasse, remotamente que fosse, dos desígnios para que havia sido instituída. Fosse por razões formais (quem vinculava a quem), fosse por falta de incentivos (ou melhor, por falta de selectividade dos incentivos, numa altura de dinheiro farto), fosse por hesitações em assumir a força que tinha, a AURN nunca teve a influência que poderia ter tido, não alcançando o reconhecimento que, à partida, parecia natural. De herança ficam uns quantos cursos de Verão, alguns estudos e projectos, uma ou outra tomada de posição circunstancial e pouco mais. Há uns 6 anos, a UMinho deu, na prática, por finda a Associação, por entre acusações à UPorto de prosseguir uma política de mimetização de iniciativas alheias que as esvaziavam, dificultando o seu sucesso. Pelo meio tinham ficado tentativas fracassadas de criar cursos comuns (às vezes "apunhalados", em cima da hora, pelos poderes fácticos, a coberto de regras de decisão que nem os reitores controlavam), promover estudos conjuntos, colocar em rede bibliotecas ou partilhar serviços. Nesse período, a UPorto consagrou-se como a maior universidade do país (até Lisboa não ter gostado e fundido duas das suas universidades), o que não obstou que Aveiro e Minho tenham encontrado o seu espaço de especialização e afirmação. Sem nenhum juízo de valor sobre o motivo invocado pela UMinho para abandonar a AURN, tenho para mim que sobretudo por erros próprios, de governação e estratégia, e alguma cupidez da UP, a UTAD foi o elo mais fraco, perdendo muita da sua capacidade de diferenciação (a minha ligação à UCP impede-me de qualquer comentário que envolva esta instituição).
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Tudo somado, a influência da AURN no destino das universidades do Norte terá sido diminuta. Aquelas evoluíram de acordo com os seus planos, com as suas ambições, competências e capacidades de influência e governação. A AURN não foi capaz de criar uma dinâmica que fizesse a diferença e preenchesse o vazio deixado por uma tutela que largou as universidades à sua sorte, à lei do mais forte, não evitando redundâncias, empurrando as instituições mais fracas para a margem da qualidade mínima como forma de sobrevivência.
Diz-se que a necessidade aguça o engenho. Os cortes orçamentais vieram para ficar, as regras de acesso aos fundos anunciam-se mais exigentes. Qualquer que seja a razão, 6 anos depois de a AURN ter sido declarada em coma irreversível, as universidades estatais do Norte (é pena que a burocracia impeça Aveiro de ser parte!) criaram um consórcio para aprofundar a cooperação na formação, investigação e ligação ao tecido económico. Oxalá tenha sucesso. Talvez valha a pena olhar para trás, ver o que falhou na AURN, tirar ensinamentos que evitem a repetição de erros. Talvez a AURN possa, afinal, ser útil...
Eo Norte bem precisa de histórias de sucesso na cooperação em que o que um ganha não seja conseguido à custa de outros, num jogo de soma nula de que o conjunto nada aproveita e que, pelo contrário, pode gerar uma concorrência destrutiva. De que vale um concelho captar, à custa de baixar as taxas, investimento que de outro modo iria para o vizinho? Guimarães anunciou uma vitória, desse tipo, um destes dias. Pírrica? Paços de Ferreira e o caso IKEA são uma lição. Por uma vez, as universidades dão o exemplo. Como deveria ser, sempre. Finalmente, a Norte algo de novo.