À primeira, a informação ainda merece destaque. À segunda, passa a mera nota de rodapé. À terceira ou à quarta, simplesmente desaparece. Se não há nada de novo para dizer, não há que perder tempo. Não justifica ocupar carateres no cada vez mais escasso papel de jornal, não tem o potencial de escândalo que permita entrar no alinhamento de um telejornal, não tem a a capacidade de multiplicar visitas e "pageviews" nas edições eletrónicas. E, assim sendo, não é notícia. E se não é notícia, também não é assunto para os atores políticos, que têm coisas mais importantes com que se entreter e gostam de ocupar o seu tempo de antena com assuntos mais glamorosos.
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De facto, dizer que a Região Norte está, outra vez, entre as mais pobres das 273 regiões da União Europeia interessa a quem? Que importância pode ter o facto de a riqueza média de um habitante da Região Norte ser de apenas 64% da média europeia? Por que razão haveria alguém de se preocupar com o facto de ser esta a região mais pobre do país? Que leitura valeria a pena fazer do facto de o Norte estar a um mundo de distância desse relativo oásis de riqueza e prosperidade que é Lisboa, com os seus 28 800 euros de rendimento per capita em paridade de poder de compra? É verdade que no Norte são apenas 16 900 euros, mas não é isso apesar de tudo melhor do que a miséria em que habitam algumas regiões gregas, polacas, búlgaras e romenas?
Se a pobreza específica do Norte, num país todo ele pobre, já não é notícia (com a honrosa exceção do JN), também não surpreende que, nos programas eleitorais das eleições que se aproximam, a desigualdade regional e as soluções para a combater não mereçam mais do que umas notas avulsas e compromissos vagos (com a honrosa exceção do PCP). Dizer que o país é Lisboa, o resto é paisagem, não é uma expressão caricatural ultrapassada, espelha de facto a realidade de um Portugal desequilibrado e tremendamente centralista.
E assim, um instrumento político fulcral como a regionalização voltará a ser atirada para o cesto dos papéis durante a vigência do próximo Governo, qualquer que ele seja. No único programa que já é conhecido, o do PS (ainda por cima, o partido que é dado como quase certo vencedor), fica claro que o assunto continuará moribundo. O melhor que os socialistas conseguem anunciar é que vão trocar a nomeação governamental do presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional por uma eleição a partir de um colégio eleitoral de autarcas e, como brinde, a eleição direta do presidente da Área Metropolitana do Porto. Papas e bolos para enganar os tolos.