A urgência da crise, a necessidade de criar empregos que, no curto prazo, possam minorar o desemprego, não nos pode distrair dos problemas que o país continua a ter pela frente. Não nos iludamos. Muitos dos empregos agora criados são úteis (por exemplo, todos os que têm a ver com o apoio a idosos e doentes). Muitos outros são, porém, "luxos" que um país com o nosso nível de desenvolvimento só se pode permitir se for capaz de cortar noutras despesas públicas, ou transferir responsabilidades para níveis da administração ou entidades mais capazes de usar eficientemente os recursos.
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Na ânsia de agradar a quem "compra"(leia-se, eleitores) soluções para o país, o que está a dar são as soluções milagreiras e fantasiosas, nas quais o país real ou a sua envolvente político-institucional são meros detalhes. Voltam, por isso, as propostas de mais Estado (e os impostos?), das nacionalizações (como seriam pagas?), de iluminados que não aprenderam nada com a história. Regressam, também, as soluções mirabolantes das novas tecnologias e inovações radicais, capazes de tornar Portugal, de um dia para o outro, no Éden. Estão bem uns para os outros!
Embalados nestas discussões, descuram-se as pequenas mudanças que melhoram o dia-a-dia: Valorizam-se procedimentos em detrimento dos resultados. Esquece-se o país que somos e o povo que temos. Os pequenos investimentos, não obstante os esforços de simplificação, continuam a penar numa via-sacra burocrática que se eterniza, desmoraliza e desmobiliza, sobretudo os mais jovens. No turismo, cinco anos continua a ser um prazo razoável para a concretização de um projecto. São as regras (de Bruxelas!), dizem-nos. O Tribunal de Contas, quiçá contagiado pela febre que parece ter atacado juízes e magistrados, adopta o panfleto como forma de divulgação das suas acções. Obcecado com os procedimentos, compara o que não se pode comparar. Critica do alto da sua sapiência arrogante. Não divulga uma boa prática. Estimula o burocrata zeloso. Incentiva o sobre-investimento. Não contribui para melhorar a gestão da coisa pública. É pena!
Insisto numa ideia: explorar as virtualidades informativas das novas tecnologias. Os processos de investimento deviam constar de um portal que permitisse acompanhar a sua evolução. Talvez não se acabasse, de vez, com os processos perdidos na pilha dos pendentes mas contribuía-se, sem dúvida, para a celeridade e para a transparência.
O Tribunal de Contas justificaria o seu lema (ajudar o Estado e a sociedade a gastar melhor) se, a par de todos os pareceres, auditorias e acórdãos, divulgasse práticas exemplares, com as quais outros serviços pudessem, pela comparação, aprender. Pela positiva, pelo fazer e não pelo não fazer.
Exemplos precisam-se, disse António Barreto no 10 de Junho. É isso! Exemplos como os de Maria Clotilde (a Tilinha), uma militante da preservação da serra da Estrela e dos produtos regionais. Ou Daniel Vendeiro, empenhado em dar alternativas à juventude de Fernão Joanes. Cada um à sua maneira, a promover a Serra preservando-a, tornando-a aprazível a quem goste da natureza, contribuindo para o advento de novos negócios e a fixação dos jovens. Pequenos passos. Seguros. Sem espalhafato. À nossa medida e maneira!