O Parlamento russo autorizou a 30 de setembro a intervenção militar na Síria, a solicitação do Governo de Damasco. A Força Aérea russa iniciou, pouco depois, bombardeamentos naquele território. Nesta decisão encontram-se algumas novidades. De facto, depois de décadas de ausência, é o regresso militar formal da Rússia ao Médio Oriente. É claro, é evidente, que a Rússia nunca deixou a região, assim como é óbvio que Bashir el-Assad, o líder sírio, deve ao menos em parte a sua sobrevivência política e física à Rússia. Há pouco mais de dois anos, a diplomacia russa conseguiu evitar uma intervenção militar norte-americana, na sequência do ataque com armas químicas de Ghouta, nos arredores de Damasco. Todos disseram sem sequer pensarem que, sem dúvida, o ataque tinha sido levado a cabo pelas forças do ditador sírio. Afinal, a coisa parecia demasiado óbvia e até estúpida para poder ser-lhe imputada. E foi a Rússia, é certo que de forma nada desinteressada, a evitar-nos o papel de idiota útil de forças ainda mais hediondas e sinistras que Assad.
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Muita água passou entretanto sob as pontes. Percebemos que aqueles que se diziam do "Estado" "Islâmico" eram um mal máximo, e que podemos mesmo ter de optar entre dois males, porque não nos dão nenhum bem para a opção. E intuímos enfim que não chegava não querer Bashir el-Assad, precisávamos de alguém que o substituísse. E ainda não arranjamos espécime para tal, embora continuemos a insistir que há "moderados" a combater naquele território. Por isso, vários países deixaram de "reconhecer" o Governo de Assad, mas, veja-se lá, esqueceram-se de nos informar quem era agora o Governo sírio que tinham como legítimo.
A Rússia não foi de modas, e mais uma vez (o que começa a ser um pouco irritante, pela frequência) atuou no tempo certo, com os meios certos. Tivesse feito o mesmo há um ano, e teria sido um coro de vestais a anunciar a terceira Guerra Mundial. Hoje, a reação foi de mero incómodo, por exemplo relativamente a ataques que causam baixas entre os civis.
Mas, com a sorte com que andamos, mais valera termos ficado caladinhos. Porque no Afeganistão bombardeámos um hospital. A Rússia bombardeia civis, nós fazemos o mesmo e causamos danos colaterais. É, as palavras também mentem.
Vários países deixaram de "reconhecer" o Governo de Assad, mas, esqueceram-se de nos informar quem era agora o Governo sírio que tinham como legítimo.