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Estudos revelam que as redes sociais operam no nosso cérebro como uma droga altamente viciante, criando dependência. Quadros de ansiedade, depressão, isolamento social, frustração, baixa autoestima e perturbação do sono podem estar associados a uma excessiva utilização ou à sua abstinência. Ficar viciado em descargas de dopamina rápida condiciona o nosso comportamento e redefine a organização do nosso cérebro, transformando a nossa forma de nos relacionarmos com os outros. É perigoso. Sobretudo, se pensarmos que são drogas desenhadas para serem aditivas de uma forma ainda mais perversa do que as outras.
Isto porque, se o álcool ou os opiáceos são viciantes, não se adaptam a cada um. Já as redes sociais moldam-se ao nosso interesse, personalizando o seu potencial aditivo, através de algoritmos tão sofisticados que sabem o que pode funcionar como estimulante para cada pessoa. Ademais, além de conseguirem sugar toda a nossa atenção e energia vital, apresentando-se à imagem e semelhança dos nossos interesses, conseguem condicionar a mundivisão de cada um, definindo a nossa perceção do Mundo.
Agora imaginem que existia uma outra droga no mercado que conseguisse adaptar-se a cada consumidor para aumentar o potencial aditivo e moldasse a sua perceção da realidade. E agora imaginem que essa droga nova pertencia a uma empresa multimilionária que detinha o poder de controlar (pelo vício e pela distorção da realidade) a maioria das pessoas do Mundo. Ora, é precisamente isso que está a acontecer.
Não é um líquido, um pó, uma pastilha, um injetável, uma planta, um óleo ou algo comestível, mas é aditivo como um opiáceo, prejudicial à saúde como o tabaco e cria problemas sociais como o consumo de estupefacientes. O mais irónico é que, abrindo uma rede social, somos alertados para os perigos das mais variadas substâncias e díspares entidades: o açúcar, a nova ordem mundial, os carboidratos, os Iluminati, as carnes vermelhas, os microplásticos, a medicina convencional, o salmão, a indústria farmacêutica, o mofo, a lactose, os parasitas intestinais, os imigrantes, os ultraprocessados, a escola tradicional, o glúten, as feministas, entre muitos outros. Diante dos nossos olhos abrem-se caixas de Pandora de novos medos e desconfianças, dependendo de quem somos e do que o algoritmo acha que se adapta melhor ao nosso potencial de ansiedade.
A velha estratégia de dividir para reinar funciona. Tal como a de apontar para todos os lados para que ninguém repare em quem aponta e, de mansinho, vamos ficando todos uns contra os outros e dominados pelo mesmo amo. Vamos ficando doentes, pelo veneno que tomamos todos os dias, enquanto perseguimos a saúde com mais restrições alimentares e nos achamos muito informados, com os nossos novos preconceitos e enviesamentos de perceção.